O
pedestrianismo está longe de ser uma actividade puramente física. A arte de
andar eleva um mero passeio ao estatuto de delicado exercício estético e ético,
com inevitáveis implicações ambientais. É de todo espectável que queiramos
beneficiar das impressões suscitadas pelas caminhadas e, ao aprofundar a
natureza desse prazer múltiplo, assumir, sem rodeios, implicações espirituais,
estéticas e éticas no que concerne ao aparentemente simples acto de andar a pé…
Karl Gottlob
Schelle, em A Arte de Passear (1802), aflora de forma exemplar essa
matéria: ««Passear é, ao
cabo e ao resto, a coisa mais simples que há no mundo: basta ter dois pés em
bom estado. Para quê escrever tantas páginas acerca disso?» É verdade: o papel
dos pés é espantosamente importante, e mais vale ter quatro do que dois. «A
arte de passear faz-me pensar numa arte de dormir.» Encantado senhor sonâmbulo;
que o sono vos seja agradável enquanto marchais!»» E Kenneth White, na
introdução da obra Caminhar, acrescenta de forma sagaz: «Se Thoreau
utiliza os pés fá-lo, afinal de contas, em benefício da cabeça ou, digamos, do
seu ser, do seu corpo-espírito inteiro. Não é um desportista que sai de casa
para fazer quilómetros, não faz footing como costuma dizer-se. Pratica a
caminhada inteligente.»
No que
concerne à necessidade seminal de andar e a caminhadas inteligentes, ir-se-á abordar os Transcendentalistas de Concord, sem deixar de mencionar as
interessantes experiências de Antero de Quental ou de Guerra Junqueiro, entre
outras facetas da arte de caminhar.
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