May we raise children
who love the unloved
things – the dandelion, the
worms & spiderlings.
Children who sense
the rose needs the thorn
& run into rainswept days
the same way they
turn towards sun...
And when they're grown &
someone has to speak for those
who have no voice
may they draw upon that
wilder bond, those days of
tending tender things
and be the ones.
Nicolette Sowder
Ó Lucy Campbell
«O
mundo da criança é cheio de frescura, de novidade, de beleza, povoado de
maravilhas e entusiasmo. É pena que, para a maioria de nós, essa visão de olhar
límpido, esse verdadeiro instinto que inclina ao belo e inspira temor e
respeito, se esbata e mesmo perca antes de chegar à idade adulta. Se eu tivesse
alguma influência sobre a fada boa que se julga presidir ao batismo de todas as
crianças, pediria que o seu presente para qualquer criança que viesse ao mundo
fosse uma capacidade de maravilhamento tão indestrutível que duraria
toda a vida, como antídoto infalível contra o aborrecimento e o desencanto da
idade adulta, as preocupações estéreis como as coisas artificiais, o alheamento
que nos afasta das fontes da nossa força.» [CARSON, 2012: 41]
«A
análise que temos vindo a fazer ao longo de 48 anos de investigação
permitiu-nos chegar a uma conclusão alarmante: por os adultos não lhes
permitirem brincar e brincar em liberdade, as nossas crianças estão a tornar-se
totós, verdadeiros analfabetos a nível motor. Impedidas de se movimentarem
livremente na Natureza e em espaços abertos, em contacto com o ar livre e os
elementos naturais, sem lugar para a imaginação e a criatividade, as
crianças de hoje estão cada vez mais tolhidas e presas por uma iliteracia
motora gritante. (…)
As
crianças do nosso tempo vivem prisioneiras no espaço e no tempo e sujeitas a
dinâmicas impostas por modelos de gestão familiar, escolar, laboral, social e
cultural. Há crianças sem infância, que não vivenciam as experiências próprias
da sua idade e, deste modo, veem comprometida a aquisição de competências
fundamentais ao sucesso na vida adulta. A infância só se vive uma vez.
Esta
é a era de crianças prisioneiras que não brincam, já deixaram de brincar ou já
não sabem brincar, porque têm o tempo todo organizado, passado na escola, em
casa ou no carro, a preparar-se para um futuro incerto que não tem em conta o
seu presente.» [NETO, 2020: 17-18]
Vivemos
um período excepcional, devido à pandemia da Covid-19, que está a confrontar de
forma inaudita a sociedade, em geral, e os indivíduos, em particular, com a prisão
na qual as nossas vidas se transformaram por via do cercear de liberdades
básicas (tidas como garantidas) como a designada “livre circulação”. Um período
que pode (ou poderia?) surgir como o despertar para um novo estado – de
liberdade – não fosse o obsessivo anseio do regresso à pretensa “normalidade”.
Será que a Covid-19 não tornou evidente que a “normose” (uma espécie de doença
da normalidade) mais não era/foi do que uma alienada/alienante prisão? A Liberdade terá de passar necessariamente por novos horizontes que não deverão estar alheados da
Responsabilidade, na senda de um Agostinho da Silva e outros inspirados pensadores operativos.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
CARSON;
Rachel. Maravilhar-se – Reaproximar a Criança da Natureza. Porto:
Associação Campo Aberto/Edições Sempre-em-Pé, 2012, pp. 104. ISBN
978-972-8870-36-2
NETO,
Carlos. Libertem as Crianças – A urgência de brincar e ser ativo.
Lisboa: Contraponto Editores, 2020, pp. 240. ISBN 978-989-666-239-4
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