sábado, 30 de janeiro de 2021

WILD CHILD

 

May we raise children

who love the unloved

things – the dandelion, the

worms & spiderlings.

Children who sense

the rose needs the thorn

& run into rainswept days

the same way they

turn towards sun...

And when they're grown &

someone has to speak for those

who have no voice

may they draw upon that

wilder bond, those days of

tending tender things

and be the ones.

 

Nicolette Sowder

[wilderchild.com]


Ó Lucy Campbell

 

«O mundo da criança é cheio de frescura, de novidade, de beleza, povoado de maravilhas e entusiasmo. É pena que, para a maioria de nós, essa visão de olhar límpido, esse verdadeiro instinto que inclina ao belo e inspira temor e respeito, se esbata e mesmo perca antes de chegar à idade adulta. Se eu tivesse alguma influência sobre a fada boa que se julga presidir ao batismo de todas as crianças, pediria que o seu presente para qualquer criança que viesse ao mundo fosse uma capacidade de maravilhamento tão indestrutível que duraria toda a vida, como antídoto infalível contra o aborrecimento e o desencanto da idade adulta, as preocupações estéreis como as coisas artificiais, o alheamento que nos afasta das fontes da nossa força.» [CARSON, 2012: 41]

 


«A análise que temos vindo a fazer ao longo de 48 anos de investigação permitiu-nos chegar a uma conclusão alarmante: por os adultos não lhes permitirem brincar e brincar em liberdade, as nossas crianças estão a tornar-se totós, verdadeiros analfabetos a nível motor. Impedidas de se movimentarem livremente na Natureza e em espaços abertos, em contacto com o ar livre e os elementos naturais, sem lugar para a imaginação e a criatividade, as crianças de hoje estão cada vez mais tolhidas e presas por uma iliteracia motora gritante. (…)

As crianças do nosso tempo vivem prisioneiras no espaço e no tempo e sujeitas a dinâmicas impostas por modelos de gestão familiar, escolar, laboral, social e cultural. Há crianças sem infância, que não vivenciam as experiências próprias da sua idade e, deste modo, veem comprometida a aquisição de competências fundamentais ao sucesso na vida adulta. A infância só se vive uma vez.

Esta é a era de crianças prisioneiras que não brincam, já deixaram de brincar ou já não sabem brincar, porque têm o tempo todo organizado, passado na escola, em casa ou no carro, a preparar-se para um futuro incerto que não tem em conta o seu presente.» [NETO, 2020: 17-18]

 


Vivemos um período excepcional, devido à pandemia da Covid-19, que está a confrontar de forma inaudita a sociedade, em geral, e os indivíduos, em particular, com a prisão na qual as nossas vidas se transformaram por via do cercear de liberdades básicas (tidas como garantidas) como a designada “livre circulação”. Um período que pode (ou poderia?) surgir como o despertar para um novo estado – de liberdade – não fosse o obsessivo anseio do regresso à pretensa “normalidade”. Será que a Covid-19 não tornou evidente que a “normose” (uma espécie de doença da normalidade) mais não era/foi do que uma alienada/alienante prisão? A Liberdade terá de passar necessariamente por novos horizontes que não deverão estar alheados da Responsabilidade, na senda de um Agostinho da Silva e outros inspirados pensadores operativos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARSON; Rachel. Maravilhar-se – Reaproximar a Criança da Natureza. Porto: Associação Campo Aberto/Edições Sempre-em-Pé, 2012, pp. 104. ISBN 978-972-8870-36-2

NETO, Carlos. Libertem as Crianças – A urgência de brincar e ser ativo. Lisboa: Contraponto Editores, 2020, pp. 240. ISBN 978-989-666-239-4

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