«Entre. Respire e ganhe asas para voar.
A presente exposição de Ruben Art, feita de inquietação e
premência, reúne um conjunto de obras com uma temática comum e recorrente.
A cor, pura e decidida, fixa no espaço a memória ancestral
e mitológica, ao mesmo tempo que cada traço abre uma nova e renovada
oportunidade de leitura.
Anunciando e anunciando-se, o pássaro, elemento fulcral da
obra, mensageiro dos deuses, símbolo de leveza e liberdade, liga a terra e o
céu, não através do voo, mas através do próprio olhar.»
(texto d’A Exposição Pássaros voam)
Ruben Art © Escultura Verde - Walk Like a Blackbird
A primal experiência perceptiva numa primeira aproximação.
A visualização imediatista das diversas peças expostas numa fulcral abertura às
emoções. A busca da mera imagem eidética ausente, dentro do possível, de
associações mentais e, daí, preservada de contaminações simbólicas. Só depois,
numa segunda volta, a abertura à livre interpretação do simbolismo. A
combinação de formas e de cores despoletam emoções mas também encerram significados.
Será essa transferência simbólica da emoção que permitirá definir este tipo de
arte?
Pintura esquemática de realidades imaginais expressas através
da simplificação e/ou da unidade do efeito principal. Arte simbólica que indiciará
uma tendência de progressão do “esquema” na direcção da abstracção ou, quiçá,
daí recorrente. Um voo para fora da realidade, para novas ou renovadas realidades.
Um domínio notável do absoluto, através da manipulação de elementos
fundamentais da estrutura do universo físico, numa pureza mística
reiteradamente sob a forma de pássaros, por vezes à lua. É esta tensão entre o
realismo esquemático e o abstracionismo, enquanto derivados da natureza, que
surge sob a forma pura ou essencial, despida de elementos acessórios.
O facto de sinais concretos poderem exprimir estas imagens –
composições de linhas, cores, volumes, etc.
– não implica a não utilização da palavra abstracto.
Serão esses intensos elementos, de forma e cor, que conferem a estas obras de
arte o seu poder estético. Esta nossa leitura resulta não só do produto final
expressivo, mas também das origens e dos processos da sua criação que
deduzimos; estádios que não deverão ser separados, a nosso ver, numa obra de
arte. Nas palavras de Ruben, a sua arte é uma «simbiose do expressionismo
alemão com a cultura pop e de rua (grafitti)»
Impressionante é também a vivacidade das cores e a sua
abordagem. Aqui não estamos perante a harmonia ou o confinamento a um conjunto
de cores restrito, nem sequer “dependentes” de um tom dominante. O
surpreendente segredo residirá no aglomerado vibrante de oposições primárias,
revelando mais a riqueza da saturação do que a subtileza da transição. Cores
separadas ou até extravasando os intensos e salientes traçados negros das
formas.
O contraste entre o vitalismo manifesto nos títulos das
obras, sobre os actos/acções de voar e de andar, e as estáticas representações
dos pássaros também despertou a nossa atenção. Tal remeterá, mais uma vez, para
a arte geométrica, de formas invariavelmente rígidas: aquilo que, ao fim ao
cabo, Wilhelm Worringer (1881-1965), identificou como “tendência para a
abstracção”. Esta tendência para o abstracionismo de Ruben, a que já tínhamos aludido,
ao invés de divagar em torno de experimentalismos livres, trata-se todavia de um
estilo pictórico de uma uniformidade – na diversidade – e coerência notáveis. Coerência,
desde logo, na temática tendo por elemento base “o pássaro”, com destaque para
o black bird, ademais de um estilo
muito próprio.
A arte, digna desse nome, implica sempre um acto de criação
original: a invenção de uma realidade que antes não existia. A função essencial
da arte manifestar-se-á, portanto, num padrão efectivo, resultante da intuição
pessoal do artista, que não constituirá expressão estética coerente antes de este
ter encontrado a sua forma expressiva. A arte é portanto muito mais do que o
processo técnico de utilização de meios através dos quais se reproduz ou
representa: o quê? A arte tem por fim revelar não o objecto em si mesmo mas o
significado que passa a assumir quando um olhar singular sobre ele pousa. O
enorme olhar que cada pássaro retribui a quem o vê também revelará um outro
sentido/significado ao/do próprio observador? Vão e vejam!
Esta é uma exposição a visitar e a revisitar, a ver e rever. E não é certamente
porque os pássaros também andam, o que muito nos apraz…
Ruben Art ©
INFORMAÇÕES
Local: Edifício 4 de Outubro
– Rua da República nº 70, Loures
Período de exposição: 19 de Abril a 30 de
Junho de 2018
Horário: terça a sexta-feira
(10.00-12.00/13.00-18.00) e sábados (9.00-14.00); encerra aos domingos,
segundas e feriados
Entrada Gratuita
Sem comentários:
Enviar um comentário