terça-feira, 11 de outubro de 2016

It's (the) Time


«Não temos outra alternativa senão reinventar a mobilidade [] grande parte da Índia ainda anda de autocarro, a pé ou de bicicleta – em muitas cidades cerca de 20% da população anda de bicicleta. Fazemo-lo porque somos pobres. Agora o desafio é reinventar o planeamento urbano, para podermos fazer isso quando ficarmos ricos.»
Sunita Narain, diretora-geral do Centro para a Ciência e o Ambiente, 2013 [KLEIN, 2016: 124]

O facto de as empresas de combustíveis fósseis terem sido autorizadas a dedicar-se à extração não convencional de combustíveis fósseis na última década não foi algo inevitável, mas sim o resultado de decisões regulamentares muito deliberadas – decisões para conceder a essas empresas licenças para novas e maciças areias betuminosas e minas de carvão; para abrir vastas faixas dos Estados Unidos ao fracking de gás natural, virtualmente isento de regulação e supervisão; para abrir novas extensões de águas territoriais e levantar moratórias existentes sobre perfuração offshore. Estas decisões são uma grande parte do que nos está a conduzir a níveis desastrosos de aquecimento planetário. Estas decisões são, por sua vez, o produto de lóbi intenso da parte da indústria de combustíveis fósseis, motivadas pelo motor mais potente de todos: a vontade de sobreviver [das empresas, entenda-se]. [KLEIN, 2016: 183]

«A luta por justiça climática aqui nos Estados Unidos e em todo o mundo não é apenas uma luta contra a [maior] crise ecológica de todos os tempos», explica Miya Yoshitani, diretora executiva da Asian Pacific Environmental Network (APEN), sediada em Oakland. «É a luta por uma nova economia, um novo sistema de energia, uma nova democracia, uma nova relação com o planeta e uns com os outros, por terra, água e soberania alimentar, pelos direitos indígenas, pelos direitos humanos e pela dignidade para todas as pessoas. Quando a justiça climática ganhar, conquistaremos o mundo que queremos. Não podemos ficar fora disto, não porque tenhamos muito a perder, mas porque temos muito a ganhar [] Estamos unidos nesta batalha, não só para a redução nas partes por milhão de CO2 mas para transformar as nossas economias e reconstruir um mundo que queremos hoje.» [KLEIN, 2016: 195-196]

O poder deste amor feroz é aquilo que as empresas que exploram os recursos naturais e respetivos defensores no governo inevitavelmente subestimam, precisamente porque não há nenhum dinheiro no mundo que o possa extinguir. Quando aquilo por que se luta é uma identidade, uma cultura, um lugar querido que as pessoas estão determinadas a deixar aos seus netos, e que os seus antepassados eventualmente pagaram com grande sacrifício, não há nada que as empresas possam oferecer como moeda de troca. Nenhuma promessa de segurança as irá acalmar; nenhum suborno será suficientemente grande. E embora este tipo de ligação a um lugar seja certamente mais forte nas comunidades indígenas, onde os laços com a terra remontam a milhares de anos, na realidade é a característica que define Blockadia. [KLEIN, 2016: 414]



Fonte bibliográfica:
KLEIN, Naomi. Tudo Pode Mudar – Capitalismo vs. Clima. Barcarena: Editorial Presença, 2016, pp. 654.

Sem comentários:

Enviar um comentário