«Não temos outra alternativa senão reinventar a
mobilidade […] grande parte da Índia ainda
anda de autocarro, a pé ou de bicicleta – em muitas cidades cerca de 20% da
população anda de bicicleta. Fazemo-lo porque somos pobres. Agora o desafio é
reinventar o planeamento urbano, para podermos fazer isso quando ficarmos
ricos.»
Sunita Narain, diretora-geral do Centro para a
Ciência e o Ambiente, 2013 [KLEIN,
2016: 124]
O facto de as empresas de combustíveis fósseis
terem sido autorizadas a dedicar-se à extração não convencional de combustíveis
fósseis na última década não foi algo inevitável, mas sim o resultado de
decisões regulamentares muito deliberadas – decisões para conceder a essas
empresas licenças para novas e maciças areias betuminosas e minas de carvão;
para abrir vastas faixas dos Estados Unidos ao fracking de gás natural, virtualmente isento de regulação e
supervisão; para abrir novas extensões de águas territoriais e levantar
moratórias existentes sobre perfuração offshore.
Estas decisões são uma grande parte do que nos está a conduzir a níveis
desastrosos de aquecimento planetário. Estas decisões são, por sua vez, o
produto de lóbi intenso da parte da indústria de combustíveis fósseis,
motivadas pelo motor mais potente de todos: a vontade de sobreviver [das empresas, entenda-se]. [KLEIN, 2016: 183]
«A luta por justiça climática aqui nos Estados
Unidos e em todo o mundo não é apenas uma luta contra a [maior] crise ecológica de todos os
tempos», explica Miya Yoshitani, diretora executiva da Asian Pacific
Environmental Network (APEN), sediada em Oakland. «É a luta por uma nova
economia, um novo sistema de energia, uma nova democracia, uma nova relação com
o planeta e uns com os outros, por terra, água e soberania alimentar, pelos
direitos indígenas, pelos direitos humanos e pela dignidade para todas as
pessoas. Quando a justiça climática ganhar, conquistaremos o mundo que
queremos. Não podemos ficar fora disto, não porque tenhamos muito a perder, mas
porque temos muito a ganhar […] Estamos unidos nesta batalha,
não só para a redução nas partes por milhão de CO2 mas para
transformar as nossas economias e reconstruir um mundo que queremos hoje.» [KLEIN, 2016: 195-196]
O poder deste amor feroz é aquilo que as
empresas que exploram os recursos naturais e respetivos defensores no governo
inevitavelmente subestimam, precisamente porque não há nenhum dinheiro no mundo
que o possa extinguir. Quando aquilo por que se luta é uma identidade, uma
cultura, um lugar querido que as pessoas estão determinadas a deixar aos seus
netos, e que os seus antepassados eventualmente pagaram com grande sacrifício,
não há nada que as empresas possam oferecer como moeda de troca. Nenhuma
promessa de segurança as irá acalmar; nenhum suborno será suficientemente
grande. E embora este tipo de ligação a um lugar seja certamente mais forte nas
comunidades indígenas, onde os laços com a terra remontam a milhares de anos,
na realidade é a característica que define Blockadia. [KLEIN, 2016: 414]
Fonte bibliográfica:
KLEIN, Naomi. Tudo Pode Mudar – Capitalismo vs. Clima. Barcarena: Editorial
Presença, 2016, pp. 654.
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