John Muir está na aurora dessas novas formas de
pensar que são traduzidas de forma cabal em A Sand County Almanac.
Esta obra, publicada pela primeira vez em 1949, só viria a revelar o seu
enorme alcance com a expansão, a partir dos anos 60 do século XX, da
consciência ecológica moderna nos Estados Unidos e um pouco por todo o mundo.
Este livro é hoje talvez o mais discutido clássico sobre natureza e ecologia,
tal como o pilar de uma muito recente ética da Terra, ética ambiental ou ética
ecológica.
Para José Carlos Costa Marques, o editor da
obra em português (Pensar como uma Montanha, 2008), é surpreendente que neste livro, de mais de 200
páginas na edição original, o mais conhecido, citado e debatido se resuma quase
ao último capítulo (The Land Ethic),
somente cerca da nona parte da totalidade da obra. E neste, sobretudo a sua
última secção (The Outlook). Nessas
duas páginas e meia destaca-se um parágrafo notável, o sexto dessa secção: oito
linhas! E destas, sobretudo, as três últimas: A thing is right when it tends to preserve the integrity,
stability, and beauty of the biotic community. It is wrong when it tends
otherwise.
A leitura integral de Pensar como uma Montanha (A Sand County Almanac) é
imprescindível para entender o pensamento de Aldo Leopold, tendo em conta que a
mesma possui uma estrutura que funciona de forma gradativa, como se o leitor
fosse levado pela mão numa lição progressiva de educação ambiental, até ao
culminar, no final da obra, nos elevados conceitos da ética da Terra. E, nesse
contexto, não será de admirar o que o filósofo Viriato Soromenho-Marques afirme
no prefácio da mesma: “O que nós devemos a Aldo Leopold é uma radical
mudança de olhar sobre as relações entre o Homem e a Natureza.” Retomando a
inspiração de outras duas gradas figuras do pensamento norte-americano do
século XIX, os transcendentalistas Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau, “Leopold
oferece aos seus leitores uma visão subtil e delicada da frágil teia dos
equilíbrios naturais, criticando, de uma forma pedagógica e sem arrogância
moral ou científica, o modo desastrado e destruidor de que se revestem a
maioria das intervenções humanas sobre os ecossistemas, em nome de um duvidoso
conceito de “progresso”. Leopold soube ver de modo mais profundo do que a
esmagadora maioria dos filósofos do seu tempo: vislumbrou e definiu uma Ética da Terra (Land
Ethics).
Na ética da Terra de Leopold está incluso
praticamente tudo aquilo que hoje estamos a (re)aprender quando queremos
transformar o conceito de desenvolvimento sustentável em algo realmente
efectivo: o respeito pelos valores intrínsecos dos ecossistemas; a capacidade
de apreciação do sagrado e sublime que se manifesta na natureza
(Soromenho-Marques in LEOPOLD, 2008). Ao fim ao cabo, a “redescoberta
de um paradigma muito antigo, o da sacralidade de todas as formas de vida, da
nossa terra viva, de nós próprios e dos outros”(HARTMANN, 2002); a que
acrescentamos nós a componente abiótica muitas vezes esquecida ou
subvalorizada, por certos autores, nestas renovadas concepções do mundo!
Nicholas Roerich © Himalayas (1921)
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