«Houve um momento da minha vida em que estremeci,
diante da paisagem, como se ela própria houvesse estremecido…; em que as pedras
e os montes me falaram. E fiquei a ser esse instante. Aquele relâmpago fixou-se
no meu espírito.»
Teixeira de Pascoaes
Para sair da abjecção dos dias de hoje é fundamental
efectivar uma aliança concreta com a antiga Mãe: a Terra. Não é somente
imprescindível a defesa das montanhas, rochedos e pedras, das árvores, dos
rios, das plantas e dos animais, mas também a defesa das tradições como a
vivência do tempo mítico e do espaço sagrado...
A ideia de uma Terra viva – Terra Mãe, Magna Mater
ou Gaia –, de uma Natureza viva, do mundo como um macróbios, esta visão panteísta
segundo a qual tudo na Natureza está vivo e tem alma (anima), implicando uma solidariedade cósmica entre os seus inseparáveis
componentes, tem reflexos profundos no inconsciente colectivo e na
espiritualidade popular portuguesa (animus), expressando-se ainda hoje através das
lendas de mouras encantadas, fontes santas, penedos da fertilidade, etc..
Por isso, neste círculo do entre-ser e da roda do ano, hoje é um dia auspicioso: a
jornada em que se comemora o triunfo do Sol, da afirmação primaveril rumo ao
Verão, estações procriadoras e fecundantes, promessas de fertilidade e de novas
andanças… Os dias cada vez mais longos, plenos de luminosidade, e o calor
estival constituem convites irrecusáveis para partir rumo à Natureza, passo-a-passo
ou pé-ante-pé, assumindo plenamente a nossa corporalidade, animalidade e o
simples mas grandioso facto de sermos... Natureza. Por isso e muito Mai(a)s, viva
o Dia da Mãe, Viva Beltane.
«As fadas… eu creio nelas!
Umas são moças belas
Outras, velhas de pasmar
Umas vivem nos rochedos,
Outras, pelos arvoredos,
Outras, à beira do mar.»
Antero de Quental
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