A prática de pedestrianismo comporta notórias implicações nos domínios da
saúde e do bem-estar dos praticantes. Andar a pé por caminhos é uma actividade
pouco exigente em termos físicos e de baixo impacto em comparação, por exemplo,
com a corrida; e, por isso, pode ser praticada dos “oito aos oitenta” anos de
idade. Por outro lado, nos percursos pedestres balizados nem sequer são
necessários conhecimentos de orientação para os efectuar (se estiverem bem
implementados). Esta actividade para além de ser acessível, no que concerne ao
desempenho, revela-se igualmente pouco ou nada onerosa, tendo em conta que não
exige nenhum equipamento específico ou especial para o efeito. Na verdade,
basta ter a motivação de andar e, nesse pressuposto, usufruir dos benefícios
que a actividade proporciona, quer nos aspectos físicos quer psicológicos.
A caminhada constitui um exercício físico de excelência (sem dúvida, dos
melhores), ao alcance de qualquer um. Mais, caminhar é um exercício suave,
ideal para todas as faixas etárias e com múltiplos e reconhecidos benefícios
para a saúde. Andar a pé contribui para melhorar o tónus muscular, aumentando o
desempenho cardiovascular e melhorando ou resolvendo eventuais dificuldades
respiratórias; favorece a coordenação de movimentos e, inclusivamente, a
prontidão de reflexos, corrige posturas erradas e pode evitar que surjam “dores
nas costas”.
A marcha, se possível acelerada – e nesse particular destaca-se a marcha
nórdica (nordic walking) pelos
benefícios acrescidos –, constitui um bom auxiliar para a perda de peso, para
mais se acompanhada de uma dieta adequada. A prática de pedestrianismo é uma
actividade física aeróbica excelente para combater o excesso de peso ou a
obesidade e, simultaneamente, para a prevenção da diabetes, a prevenção e o
tratamento da hipertensão arterial e a redução dos níveis de colesterol. A
marcha ajuda a prevenir e a tratar a osteoporose, constitui um precioso
auxiliar no tratamento da artrite reumatóide e ajuda inclusivamente a prevenir
o aparecimento de determinados tipos de cancro como, por exemplo, o cancro da
mama, do cólon, do útero, dos ovários e da próstata. Mas os benefícios
referidos não se restringem apenas aos aspectos físicos, andar a pé surge como
uma praxis privilegiada de contacto
com o meio envolvente e de partilha de experiências com consequências inegáveis
no âmbito do bem-estar psicológico. Neste contexto, o pedestrianismo também
favorece a prevenção da depressão (melhorando a disposição) e promove a redução
do stress (e simultaneamente da
glicemia, visto as hormonas do stress
serem hiperglicemiantes).
Pelos motivos elencados, entre muitos outros que ficam por indicar,
torna-se evidente a importância da prática de pedestrianismo muito para além da
tradicional usufruição e interpretação do meio. E, nesse pressuposto, será
igualmente importante associar a essa prática a mensagem veiculada por muitos
médicos de família no que concerne à saúde dos seus pacientes: “Ande pelo menos 30 minutos por dia”. Na
verdade, ande bem mais, ande sempre que possa.
ANDAR PELA SUA SAÚDE E PELA SAÚDE DO PLANETA
A prática de caminhada tem vindo a ser incrementada por via da promoção
de estilos de vida saudáveis e activos, designadamente através dos médicos de
família, particularmente em segmentos populacionais com um acentuado risco de
inactividade (e.g. idosos). Os indivíduos sedentários tendem a estar
dependentes da existência de infraestruturas específicas para a prática
desportiva e, nesse contexto, os percursos pedestres balizados surgem como
catalizadores da prática de exercício físico, mormente quando se localizam na
proximidade das suas áreas residenciais e em ambientes seguros. No entanto,
será de destacar que a promoção da caminhada, no âmbito da saúde, tem gerado
grupos informais de caminhantes que diariamente se encontram para andar nas
imediações da sua área residencial e na via pública, sem quaisquer
infraestruturas específicas para o efeito. Na verdade, a prática de marcha não
exige qualquer tipo de “pista” instalada para o efeito ou deslocar-se através
de veículo até um determinado local, mais ou menos distante. Basta sair de casa
e andar, tão simples quanto isso!
Nos tempos que correm é fundamental adoptar novas atitudes e formas de
promover e praticar pedestrianismo e, nesse contexto, os percursos urbanos têm
vindo a suscitar um notório interesse. A utilização de bastões – associada aos
benefícios da marcha nórdica (nordic
walking) – ou o uso de Fivefingers – relacionado com as vantagens de andar
descalço (barefooting) – surgem
igualmente como renovadas abordagens que visam incentivar a prática de
exercício físico, a par de opções nutricionais pouco usuais (como as
paleodietas). Dessa forma poder-se-ão colmatar algumas das graves carências de
prática desportiva que se verificam na sociedade portuguesa, com as nefastas
consequências em termos de saúde daí resultantes. Mas a prática de
pedestrianismo também deverá promover, nos dias de hoje, uma consciência
ecológica que extravase o antropocentrismo (microcosmo da esfera meramente
humana) e adopte uma visão ecocêntrica ou, melhor, ecosófica (que tenha em
conta o macrocosmo a nível planetário). “Pensar
global e agir local”, andar para estar conectado com o todo, ao estilo da
campanha federativa “Ande a pé pela sua saúde e pela saúde do
planeta”.
Pedro Cuiça: Passo a Passo – Manual de
Caminhada e Trekking (A Esfera dos Livros, 2015: p. 40-43)
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