sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Senso e Sentido

Hoje, que se realiza o lançamento do Volume X das Obras Completas de António Telmo, Capelas Imperfeitas, editadas pela casa Zéfiro, deparei-me com um pequeno texto – Carta íntima a mim próprio – integrante do Volume I dessa “colectânea”, A Terra Prometida, com interessantes considerandos acerca do senso e do sentido, que me remeteram para as caminhadas holotrópicas, mormente pelo marcado cariz sensorial destas. Afinal tudo está (inter)ligado a tudo e, ademais, algumas coisas mais que outras…


«O ouvido torna-se um foco de atenção quando falta a luz. O principal foco da atenção. Depois vem o olfacto e o tacto. A vista guia-se por estes três sentidos. Os filósofos para quem o mundo sensível é uma noite detêm o segredo da palavra que expulsa os ídolos. Este de que falamos [Sampaio Bruno] é desta espécie e daí privilegiar a metáfora, não pelo seu esplendor, mas pelo que ela manifesta do poder da palavra transformando o sentido.
Álvaro Ribeiro, seu discípulo, nisto como noutras coisas igualmente importantes, não gostava da palavra sentido, utilizada para designar os cinco órgãos de apreensão do sensível. Propunha senso para a substituir. O sentido, ensinava ele, é o que o senso encontra fora de si. Não é o em quem sente, mas o no que é sentido. Estranhamente preferiu o rigor lógico da linguagem ao seu uso popular, que tanto prezava. Preferiu o científico ao primitivo. É um dos poucos pontos em que não posso estar com ele. Pois que, quando dizemos, como é uso popular, que por determinado caminho vou no sentido do norte, digo muito mais do que se dissesse que vou na sua direcção. Sinto o Norte para aquele lado, o Norte torna-se o que sinto, isto é, o meu sentido, o que está em mim e ao mesmo tempo lá fora. Do mesmo modo, quando, numa quadra popular, ele diz para ela “Trago-te no meu sentido”, o sentido aqui é a alma que sente e a alma que ela é.
A designação dos cinco sentidos é toda ela feita com particípios passados: Ouvido, vista, olfacto, tacto. Toda, não. Falta o paladar, que é uma operação do palato. Passado ou perfeito, o que diz um mundo sensível integrado no nosso senti-lo.»
[TELMO, 2014: 146-147]



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
TELMO, António. A Terra Prometida – Maçonaria, Kabbalah, Martinismo & Quinto Império. Sintra: Zéfiro, Obras Completas de António Telmo, Vol. I, 2014, pp. 212. ISBN 978-989-677-115-7
TELMO, António. Capelas Imperfeitas – dispersos e inéditos. Sintra: Zéfiro, Obras Completas de António Telmo, Vol. X, 2019, pp. 286. ISBN 978-989-677-167-6

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