sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Catarse pedestre


Pedro Cuiça © a pé  (Praia de Faro, Agosto de 2013)

Catarse, sim!... Ou uma espécie de catarse que, para o caso, vai dar ao mesmo! Kátharsis enquanto libertação ou superação de um ciclo, enquanto purificação ou renovação espiritual e/ou, apenas e tão somente, como reflexão de fim/início de nova viagem/voltinha neste ci(r)c(u)lo que é a vida.
Nestas alturas da roda do ano é costume as pessoas fazerem balanços e/ou planos ao estilo “ano novo, vida nova”. Diremos, contudo, “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”! O que nos move não são datas calendarizadas e nas quais amestradamente se reage sob maneirismos estandardizados e, por isso, supostamente adequados, e muito menos fazer votos inconsequentes de pretensas mudanças de formas de vida. Portanto, mais do que o final/início de ano, torna-se para nós significativo salientar o facto de o blogue Pedestris ter cumprido, no passado dia 15 de Novembro, cinco anos de existência neste espaço virtual que é a Internet. Ou nem isso: esta tratar-se-á de uma catarse (ou espécie de catarse) pedestre talvez resultante, simplesmente, de uma mera sensação (na verdade, convicção) de que algo está a acabar e outro tanto (ou mais?) a começar…
O Pedestris surgiu como resultado de um «sentimento de que um novo “ciclo pedestre”» se abria. Como foi escrito na “inauguração” do blogue: «Depois de apresentar, em jeito de fim de ciclo, Ecosofia PC – Um ensaio de andanças mais além», em Outubro de 2013, «na Cooperativa Terra Chã, situada nas faldas da Serra de Candeeiros (a ancestral Serra da Lua), e dos eventos que se lhe seguiram, tornou-se inadiável dar, por fim [ou início], mais este passo… Deve ser por estar uma Lua Cheia fantástica :)».
Agora que estamos em quasi Lua Nova e que, passados cinco anos, voltamos a registar um inequívoco sentimento de mudança, consideramos que chegou a altura de manifestar o despontar de «novos caminhos» e que, à semelhança de 2013, fazemos votos de que estes possam ser ainda «mais desafiantes e estimulantes». Desiderato que, aparentemente, não será fácil de concretizar, tendo em consideração as excepcionais inovações das formas de fazer, sentir e pensar a prática pedestre (tal como a teoria) no ciclo que agora de certo modo acaba. Na verdade, esse é um terminus apenas aparente porque não menosprezamos e muito menos rejeitamos tudo aquilo que está inerente ao ciclo anterior, tal como aos outros ciclos associados a quatro décadas (mais precisamente 39 anos) de actividades de ar livre em geral e de pedestrianismo/montanhismo em particular. Assumimos toda a carga de experiências e de conhecimentos, tal como dos diferentes estilos de fazer/estar, mas não nos esquivamos a renovadas “levezas” do ser e, sobretudo, ao imprescindível entusiasmo… Ademais quando nem sequer rejeitamos revivalismos, mormente sob outras (ou até as mesmas) roupagens.
O Pedestris irá, por isso (e muito mais), continuar a ser um blogue sobre e para “Caminheiros Andantes”, aqueles que andam ou demandam andar encantados… Sobre a Arte de Caminhar numa perspectiva holotrópica e ecosófica, andar no mais profundo contacto com/ser a Natureza. No entanto, e de certa maneira, ao contrário do que aconteceu no dealbar do ciclo anterior, torna-se-nos difícil, senão impossível, precisar os caminhos ou sequer esboçar os rumos que iremos agora palmilhar. Talvez isso se deva a que, ao contrário do anterior luminoso plenilúnio, nos encontramos agora na simulada escuridão de uma Lua Nova! Caminhos, desta feita, mais misteriosos, metafísicos e/ou que almejam ir par’além da Natureza? Ou, então, ainda mais concretos, terra-a-terra e exigentes a nível corporal?  Ou, ainda, a plena liberdade de vivenciar a congruência de abordagens paradoxais? Quem sabe?
Diremos que só nos resta aguardar para ver quais as novidades que, a nível profissional e associativo (e também em solitário!), (d)aí (ad)virão. De resto, nenhuma dúvida nos assalta de que esses caminhos, sejam eles quais forem, irão continuar a constituir uma «renovada motivação para escrever e partilhar vivências». Escrever (n)o Pedestris resulta de uma íntima necessidade intelectual de reflexionar e teorizar acerca do Caminhar/Caminho(s)… Trata-se, pois, de uma actividade eminentemente solitária, uma espécie de monólogos que, por vezes, até podem adquirir a faceta de catarse :) Daí que pouco ou nada contribua para a nossa motivação, satisfação ou até gozo, que reiteradamente nos move, o número de leitores que tenhamos ou possamos vir a ter. Não iremos, todavia, concluir esta catarse pedestre sem deixar de saudar os nossos (poucos) seguidores indefectíveis e todos aqueles que encontraram ou venham a encontrar no nosso “escrevinhar” algo de útil, ou até de inútil, ao seu “por-vir”. Bem hajam!


Ana Margarida Cuiça © mais do que a pé também a nado  
(Praia de Faro, 27 de Dezembro de 2018)


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