«Subir e, tão
ou mais importante, descer uma montanha constitui muitas vezes uma experiência
transcendente pois todas as montanhas são sagradas. São locais mágicos onde é
permitido ao Homem sentir, sem rodeios, a verdade de estar vivo ou a dura
realidade de enfrentar a morte. O montanhismo foi e continua a ser um grande
jogo mas para jogar é sensato conhecer e dominar as regras do jogo.(Pit
Schubert in CUIÇA, 2010)» Foi sobre
as formas de jogar esse grande jogo que fui hoje palestrar na Escola Superior
de Desporto de Rio Maior (ESDRM), no âmbito da cadeira de Ética e Deontologia
Profissional do terceiro ano da licenciatura em Desporto de Natureza e Turismo
Ativo.
Numa época na qual se tornou lugar-comum falar sobre crise de valores não deixa de ser curioso abordar a “Ética e Deontologia em
Desportos de Montanha”, ademais em actividades que sempre foram atreitas a não
possuir regras escritas: alpinismo, montanhismo e/ou escalada (clássica ou
tradicional). No entanto, afirmar o estatuto ético ou o valor intrínseco das
montanhas é tão pertinente, hoje, quanto será o facto de enaltecer a
“conquista do inútil”. Não basta subir montanhas, a forma como se processa essa
ascensão manifesta-se de primordial importância à luz da ética normativa… A praxis – o (como) fazer – das actividades
de ar livre, em geral, e das actividades de montanha, em particular, não pode
estar alheada da dimensão ambiental e dos conceitos éticos daí decorrentes: sencientismo,
biocentrismo, ecocentrismo, etc.. Tal
como não será expectável numa ética aplicada ignorar o conceito de jogo justo (fair-play), independentemente de pretensos
dilemas éticos (e.g. risco versus segurança). Integrada no seio dos
desportos ditos de “risco”, a prática de montanhismo e/ou de escalada carece de
uma reflexão face à forma como a sociedade contemporânea revela uma fascinação
pelo risco e simultaneamente uma obsessão pela segurança (LE BRETON, 2000). Daí
decorre, aliás, a confusão entre aventura e pseudo-aventura tão comum nos dias
que correm… Enfim, nesta como noutras “matérias” não será suficiente seguir o ditado “tudo
em monte e fé em Deus”! Ou será? Tudo depende do significado que dermos às
palavras e da forma como as consubstanciemos na prática concreta de subir
montanhas, na mais íntima convivialidade com a verdade pura e dura dos vastos
espaços verticais e da grandiosa beleza do mundo mineral.
DRÓGuia
de Montanha (2010)
Referências
bibliográficas
BRETON, David. Passions du Risque. Paris : Éditions Métailié, 2000. ISBN
2-86424-334-2
CUIÇA, Pedro. Guia de Montanha – Manual Técnico de Montanhismo I. Lisboa: Federação de Campismo e Montanhismo de
Portugal/Campo Base, 2010. ISBN 978-989-96647-1-5
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