Dia Internacional das Montanhas*
«Suspeito
agora que, exactamente como uma manada de veados vive no temor mortal dos
lobos, assim vive a montanha no temor mortal dos veados. E talvez com mais
razão, pois que enquanto um veado abatido pelos lobos pode ser substituído em
dois ou três anos, uma cordilheira desarborizada por um excesso de veados não
consegue reconstituir-se em tantas outras décadas.»
Aldo
LEOPOLD (2008)
«As montanhas são necessárias! As
montanhas são necessárias para que os rios possam fluir delas até mim!»
Vladimir
ANTONOV (2008)
O Dia
Internacional das Montanhas, que se comemora a 11 de Dezembro, vem recordar-nos
mais uma vez a necessidade premente de proteger esses frágeis e importantes
ecossistemas, sujeitos a uma destruição e degradação que tem vindo a aumentar
devido a uma crescente pressão humana, directa e indirecta, designadamente através
do aquecimento global e das alterações climáticas associadas.
A
implementação de medidas conducentes a um desenvolvimento sustentável nas áreas
de montanha começa por acções de âmbito geral e de aplicação no dia-a-dia, como
a diminuição da pegada ecológica de cada um de nós, mas também na forma como
individualmente e em grupo encaramos e praticamos actividades de ar livre em
meio montanhoso.
Os locais de
difícil acesso eram tradicionalmente pouco frequentados pelo Homem. No entanto,
o significativo incremento da prática de actividades de ar livre, que se
verificou nas últimas décadas, começa a reflectir-se na qualidade desses
sítios, de grande riqueza natural: hoje em dia, “não deixar mais que pegadas e não tirar mais que fotografias” é
insuficiente face aos problemas locais de massificação das actividades outdoor e, mais ainda, face a problemas
globais... Nesse contexto, exigem-se medidas concretas, fundamentadas e
eficientes que resolvam o paradoxo de como proteger os ambientes de montanha e
simultaneamente promover a prática de actividades de montanha. Torna-se
evidente que essas actividades terão de passar por uma ponderação, na
perspectiva do que se entende por desenvolvimento sustentável, em que o diálogo
entre os diversos intervenientes contribua para uma gestão coerente e
equilibrada do património natural.
Actualmente
chega-se à conclusão de que cada um de nós desempenha um papel, mais ou menos
importante, nas alterações que se processam constantemente no meio: apesar das
contribuições individuais serem pequenas ou mesmo insignificantes a sua soma
poderá atingir grandes proporções. A massificação dos “terrenos de aventura”
pode originar diversos impactes ambientais: pisoteio, incremento da erosão,
ruído, destruição de vegetação, perturbação da fauna, detritos, risco de
incêndio, etc.. Por outro lado, a multiplicidade de “actividades de
montanha” é estonteante: desportos motorizados, caça e pesca, hidrospeed, canyonig, rafting,
parapente, bicicleta de montanha, marcha e/ou corrida de orientação,
espeleologia, escalada, montanhismo, pedestrianismo, percursos equestres,
esqui, escutismo, etc.. Haverá um largo consenso em torno do exposto, no
tocante aos (eventuais) impactes ambientais da prática de actividades de ar
livre, tal como haverá no que concerne há necessidade de diferenciar as
diversas actividades, caracterizar os respectivos impactes, monitorizar,
quantificar, etc.. E, nesse
pressuposto, efectuar uma gestão particularizada, diferenciadora e ajustada às
especificidades em jogo.
Respeitar o meio
ambiente será uma garantia não só da qualidade do mesmo, como do futuro da
própria prática de actividades de ar livre. No entanto, de uns anos a esta
parte, constata-se a implementação de inúmeros condicionalismos e proibições da
prática dessas actividades, sobretudo nas áreas protegidas. É importante que os
praticantes possuam uma conduta irrepreensível no que concerne à conservação da
natureza, mas também é certo que os decisores devem ter em conta as
especificidades de cada modalidade e, sobretudo, diferenciá-las. Só assim se
poderá tentar qualificar e quantificar cada uma das actividades de montanha e
seus impactes para, depois, decidir sobre as medidas a implementar. Estas
actividades carecem de uma gestão adequada e não de proibições avulsas!
PC
*artigo escrito para a revista Flor de Lis (Dezembro 2014)
Referências bibliográficas
CUIÇA, Pedro (2010): Guia de Montanha – Manual Técnico de Montanha. Lisboa:
Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, pp. 224. ISBN
978-989-96647-1-5
LEOPOLD, Aldo (2008) [1949]: Pensar Como Uma Montanha. Águas Santas: Edições Sempre em Pé,
pp. 220. ISBN 978-9-728-87010-2
Sem comentários:
Enviar um comentário