quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Dá ECO ao (teu) futuro

 



A última fase de inscrição, em 2024, no Mestrado em Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos começa hoje e estende-se até dia 26 de Agosto, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL). Uma oportunidade única de frequentar um mestrado muitíssimo interessante para aqueles que pretendam estudar as (inter)relações entre os humanos e os contextos bióticos e abióticos do meio em que vivem. A complexidade inerente à componente cultural dos humanos, sem esquecer as suas ligações (inatas) à natureza, assume um papel de primordial importância num mundo cujas alterações climáticas, as ameaças à biodiversidade e a poluição, entre outras variáveis, levantam desafios a que é fundamental dar resposta.

 

Segundo Eugene Odum, o ensaio Man’s Place in Nature, de Thomas Huxley, tipifica a atitude dos biólogos do século XIX perante o “homem” e o seu ambiente. E acrescenta (1988: 816):

 

«Reflectindo a influência do Darwinismo, estes biólogos do passado abordavam o papel do homem na natureza do ponto de vista da sua linhagem ou parentesco natural com os outros organismos. Depois de mais de 50 anos, a ideia do parentesco evolutivo com a natureza começou a ser aceite por uma maioria de pessoas, e a atenção voltou-se, então, para a ideia de ligação natural do homem, ou interdependência ecológica, com o biota, um conceito que hoje se encontra longe de ser universalmente aceite.»

 

Afortunadamente, a ecologia humana foi capaz de adotar uma «perspectiva evolutiva, com a qual se procura explicar como os seres vivos se modificaram e diversificaram ao longo do tempo e os mecanismos que levaram a essa modificação, passando a incluir-se o “homem” no processo evolutivo [das espécies] e, portanto, a considerá-lo parte integrante da biosfera» (Avelar e Pité 1996 in Carvalho 2007: 128). A integração do “homem” na natureza, o reconhecimento de que é natureza, trata-se de um (re)posicionamento concetual de enorme importância e abrangência, designadamente ao abrir caminho para o assumir de uma renovada aliança holística com Gaia: o conceito de Lynn Margulis e James Lovelock (1972), de uma Terra viva, como um sistema fisiológico único e auto-regulado (Lovelock 1996).

Uma das singularidades da ecologia humana, que resulta em parte da sua transdisciplinaridade, consiste na sua abrangência holística que, aliás, partilha com a ecologia geral. Partilha que se estende à abordagem sistémica e ao estudo de assuntos de enorme complexidade, «no que tal significa de variedade, complementaridade, concorrência, incerteza, antinomia» (Carvalho 2007: 133). A importância da transdisciplinaridade, que caracteriza a atual ecologia humana, traduz-se na abrangência de diversas áreas do conhecimento científico, desde a sociologia à psicologia, antropologia, etnografia e filosofia, entre outras. Transdisciplinaridade que não deverá, todavia, ignorar as bases científicas resultantes de ciências naturais como a geologia, a biologia ou a ecologia, entre outras. Eugene Odum, num artigo publicado na revista Science (1975), reforça precisamente a importância de estabelecer a ponte entre as ciências naturais e as ciências sociais (ibid.). E a Ecologia Humana pode e deve ser essa importante ponte.

 



Referências bibliográficas

Carvalho, Francisco. 2007. “Da Ecologia Geral à Ecologia Humana”. Sociológico 17(2): 127-135.

Lovelock, James. 1996. GAIA – A Prática Científica da Medicina Planetar. Lisboa: Instituto Piaget.

Odum, Eugene P.. 1988. Fundamentos de Ecologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 4ª ed..

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Lançamento de livro

 


O lançamento online do livro Saúde, Espiritualidade e Arte: a força de criar, dançar, cantar, rezar e fazer cura é já amanhã às 19:00 (hora de Portugal). O evento irá contar com a presença da Profª Dra. Silvia Regina Paes (coordenadora editorial) e dos outros autores do livro, provenientes de três países distintos: Brasil, Portugal e Argentina. A obra é editada pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e será disponibilizada no repositório dessa universidade.

Para mais informações consulte o site da UFVJM, onde também poderá conectar-se ao evento.

ENORME AGRADECIMENTO


No dia 17 de Julho de 2023 expressei o meu enorme agradecimento a todos aqueles que contribuíram para a resposta ao inquérito no âmbito da minha dissertação de mestrado, sobre “Percepções de conexão à natureza e de bem-estar em caminhadas pedestres – estudo exploratório no âmbito da Ecologia Humana”. O seu apoio no preenchimento e na divulgação do inquérito foi imprescindível para a concretização e a ultrapassagem dos objectivos propostos. Nesse dia foi atingido o "número redondo" de 450 inquéritos preenchidos, com o qual considerámos terminada a fase relativa à recolha de dados da componente quantitativa da investigação em curso. Salientei também, na ocasião, as palavras amigas e o estímulo que recebi de muitos “colaboradores”, aos quais expressei a minha maior GRATIDÃO.

Ontem, dia 17 de Julho de 2024, passado exactamente um ano, concluí oficialmente o mestrado em Ecologia Humana, ao ter sido publicada a avaliação final no site da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH). Este é, portanto, um momento muito especial, no qual tenho o grato prazer de expressar novamente a minha reiterada gratidão a todos aqueles que participaram e apoiaram os trabalhos realizados; com uma particular menção à minha orientadora de mestrado, a Profª Dra. Ana Paula Gil. Há um ano e ontem, tal como hoje, estamos e continuaremos juntos.



NOTA: a dissertação estará disponível em breve no Repositório da Universidade Nova de Lisboa (UNL).

segunda-feira, 15 de julho de 2024

Técnicos de Percursos Pedestres

 

© PC


Após um interregno de vários anos, a que não estará alheia a pandemia de Covid-19, os Cursos de Técnicos de Percursos Pedestres foram retomados no seio da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP), com um novo modelo de formação concebido para quatro graus de credenciação de Quadros Técnicos, que deriva de uma profunda reestruturação da formação, necessariamente com conteúdos programáticos atualizados e renovados.

O Centro de Formação da FCMP lançou dois cursos de grau I, que começaram por uma componente de e-learning, comum a ambos os cursos, que decorreu de 17 a 21 e de 24 a 27 de junho, das 20:00 às 23:00, num total de 30 horas de formação. A avaliação desta componente de e-learning será efetuada através de teste de escolha múltipla, online, a decorrer no dia 18 de julho, das 20:00 às 20:30.

Os cursos comportam cerca de quatro dezenas de formandos e aqueles que obtiverem classificação positiva na componente de e-learning serão distribuídos por duas turmas na componente presencial a realizar, no Parque Florestal de Monsanto, nos dias 27-28 de julho e 3-4 de agosto, respetivamente para cada uma das turmas (A e B). A componente presencial, num total de 15 horas, será ministrada integralmente sob a forma de Ensino Outdoor.

Os Cursos de Técnicos de Percursos Pedestres envolvem ainda uma componente de estágio, com a duração de três meses, na qual os formandos terão de elaborar um projeto de implementação de um percurso pedestre, com o auxílio de um tutor.

A equipa de formadores é composta inteiramente por Técnicos de Percursos Pedestres da FCMP, com uma vasta experiência na área da implementação de percursos pedestres de Pequena Rota® (PR®) e de Grande Rota® (GR®), designadamente noutras federações congéneres e/ou empresas em Portugal e no estrangeiro: Pedro Cuiça, Rúben Jordão, Javier Aradas e Manuel Franco.

Ambos os cursos foram validados pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) como ações de formação contínua com vista à atribuição de Unidades de Crédito para revalidação de Títulos Profissionais de Treinador de Desporto (TPTD) em Pedestrianismo. Cada um dos cursos aufere 6 Unidades de Crédito.


© PC

 

Unidades Curriculares (UC)

UC1: Pedestrianismo e Percursos Pedestres

UC2: Homologação e Implementação de Percursos Pedestres

UC3: Caminhos e Percursos Pedestres: Enquadramento Legal

UC4: Elementos de Cartografia e Orientação Clássica

UC5: Elementos de Cartografia Digital, GPS e Software

UC6: Reconhecimento, Design e Projetos de PP

UC7: Implantação/Marcação de PP

UC8: Protocolo de Vistoria e Homologação de PP

UC9: Promoção de PP

UC10: Qualidade de Manutenção de PP

UC11: Segurança e Risco em PP

UC12: Ética e Deontologia em PP

 

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Saúde, Espiritualidade e Arte

 



O lançamento online do livro “Saúde, Espiritualidade e Arte: a força de criar, dançar, cantar, rezar e fazer cura” está agendado para dia 19 de julho, no Brasil, às 15:00, na Argentina, às 13:00, e em Portugal, às 19:00. A obra, coordenada pela Profª Dra. Silvia Regina Paes e editada pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), reúne um conjunto diversificado de temáticas e autores de três países: Brasil, Argentina e Portugal.

Segundo a Profª Silvia Paes: «Os temas do livro “Saúde, Espiritualidade e Arte” representam a importância das ciências ligadas à saúde se abrirem para temáticas que, geralmente, não fazem parte do seu rol de interesse no campo da pesquisa e mesmo da extensão». É neste contexto de grande abrangência temática, assumidas visões holísticas e mais além, que os artigos deste livro evidenciam «diferentes possibilidades para a reflexão sobre a saúde, a espiritualidade e a arte em diversas perspectivas de análise». Os artigos, que constituem esta obra, são os seguintes:

1.     Saúde e espiritualidade na perspectiva dos povos Tupi – Sassa Tupinambá

2.     Natureza Templo – Larissa Malty

3.   Se não sente, sint(r)a: caminhadas liminares na natureza (mais do que) humana – Pedro Cuiça

4.    A água enquanto fonte de cura: reflexões sobre os trabalhos corporais aquáticos e o uso artístico, terapêutico e espiritual da água – Bárbara Carolina Medeiros de Tompa

5. Conexões invisíveis: espiritualidade, saúde e arte em unidade nas culturas tradicionais – Silvia Regina Paes

6.  Vale do Jequitinhonha: interculturalidade, intersubjetivação e encantaria – Déa Trancoso

7.    Educação, Saúde e Espiritualidade: Mulheres e Homens caminhando em tempos de transição – Conceição Clarete Xavier Travalha 

8.     Amar e Vadiar – Marcos Vinícius Bortolus

9.    El Arte y el Juego: habitar otro tiempo – Diana Diez

10. Existe algo além – Luiz Eduardo Tibães

O lançamento de Saúde, Espiritualidade e Arte” constituirá uma oportunidade ímpar de conhecer a obra e conversar com os autores. Para participar basta usar o link: https://meet.google.com/mvq-ggjt-ayt. A edição em formato eBook será disponibilizada online gratuitamente, prevendo-se uma futura edição em papel.


terça-feira, 2 de julho de 2024

Mestrado em Ecologia Humana



Na década de 1920 surgiu, pela primeira vez, um estudo, no âmbito da ecologia humana, sobre os esquimós do noroeste da Gronelândia, publicado na revista Ecology (1921), da autoria de Elmer Ekblaw, no qual esse geólogo, botânico e ornitólogo analisou as relações entre a antropocenose e os ambientes biótico e abiótico. A abordagem inovadora de Ekblaw passou quase despercebida, o que também aconteceu com outros artigos científicos, na época, como foi o caso d’A humanização da ecologia – Todas as formas de vida em relação com o ambiente, também editado na Ecology (1922), da autoria de Stephen Alfred Forbes.

A ecologia humana constitui, hoje, um diversificado corpo de conhecimento, com investigação em inúmeras áreas do saber. Foi neste âmbito que pude aprofundar os conhecimentos que trazia das licenciaturas em Geologia e em Ciências do Ambiente, e empreender investigação no mestrado em Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos, sobre percepções de conexão à natureza em caminhadas pedestres. Uma experiência muitíssimo gratificante que irá terminar no próximo dia 4 de Julho com a defesa da dissertação.

A terceira fase de inscrições no Mestrado em Ecologia Humana e Problemas Sociais Contemporâneos está a decorrer, até dia 22 de Julho, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa (UNL). Esta é certamente uma oportunidade única de aprofundar questões ecológicas e ambientais sob uma perspectiva transdisciplinar e aliciante que aconselho vivamente.

Para saber mais sobre o que é a Ecologia Humana pode consultar, por exemplo, a obra História e Epistemologia da Ecologia Humana ou o último número da revista Ecologias Humanas (vol. 10, nº 11, de Junho de 2024), editada pela Sociedade Brasileira de Ecologia Humana.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

"Indevidos"

 ESTRANHOS SÃO OS "INDEVIDOS"

Um fenómeno a que temos vindo a assistir, nas últimas décadas, é a apropriação indevida de caminhos públicos por parte de indivíduos proprietários de terrenos onde esses caminhos passam. Basta encerrar a passagem e/ou colocar sinalética do tipo "propriedade privada" ou "acesso proibido" e aquilo que era público passa, supostamente, a privado. A Herdade da Comenda é talvez o mais mediático exemplo de uma corriqueira e costumeira prática de norte a sul do território nacional.
Nos países nórdicos existem leis que defendem o direito de passagem dos caminhantes, no nosso país existem práticas que premeiam a "xico-espertice" de alguns em detrimento do pretenso direito constitucional da passagem de todos (Artigo 44° da Constituição da República). Se já não bastasse a destruição dos últimos redutos de natureza, acresce agora esta "peculiar" forma de interdição de acesso à mesma!... E, depois, admiram-se que haja desconexão generalizada à natureza ou défice de conexão à natureza, com todas as consequências negativas no que concerne a saúde e o bem-estar dos "cidadões". Manifesta evidência da iliteracia de um país em que, pelos vistos, o fado continua a "inducar" e o vinho a "instróir"!


[Foto: Facebook via Carlos Marques da Siva]

quinta-feira, 28 de março de 2024

The Wanderer...

 


"Wanderer above the Sea of Fog (German: Der Wanderer über dem Nebelmeer)", c.1818 by Caspar David Friedrich

sábado, 3 de fevereiro de 2024

Caminhar na Natureza

 

A formação contínua de treinadores em desportos de montanha revela-se de fundamental importância como garante de eficiência e eficácia no desempenho das suas funções, designadamente no âmbito das soft skills. E, nesse contexto, a conexão à natureza e o bem-estar surgem como componentes de importância e interesse crescentes no contexto da gestão de grupos em actividades de montanha. É com base nestes pressupostos que o Centro de Formação da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal/Escola Nacional de Montanhismo (CF-FCMP/ENM) vai realizar, no dia 27 de Fevereiro, com início às 20:00, a próxima edição das Palestras da Montanha, sobre a temática: Caminhada, Conexão à Natureza e Bem-estar.

Nessa palestra será destacada a importância da conexão à natureza e do bem-estar na gestão de grupos em actividades de montanha, mormente no âmbito do pedestrianismo, mas também da marcha off-road em montanhismo. A abordagem que será desenvolvida começara por apresentar um conjunto de conceitos e de práticas, designadamente friluftsliv, experiências flow, peak experiences e plateau experiences, deep experiences, relational total-field e rewilding. E, numa segunda fase, será dada uma particular atenção à sua aplicabilidade no terreno, durante a realização de actividades de montanha, por parte de detentores de Título Profissional de Treinador de Desporto (TPTD) em pedestrianismo e/ou em montanhismo, com base na utilidade da pirâmide de necessidades de Maslow como ferramenta de gestão de atividades de ar livre. Por outro lado, será aprofundado o conceito de bem-estar subjetivo na sua componente eudaimonica, tendo em conta as dificuldades, contratempos e problemas inerentes à prática de actividades de ar livre, em geral, e de actividades de montanha, em particular.

Para mais informações e/ou para efectuar a respectiva inscrição, nesta ação de formação, consulte o site da FCMP. A participação é gratuita. 



sábado, 20 de janeiro de 2024

Tua Walking Festival 2024


O Parque Natural Regional do Vale do Tua (PNRVT) vai realizar a segunda edição do Tua Walking Festival, com arranque nos dias 23 e 24 de Março, em Mirandela. Um evento que, ao longo do ano de 2024, irá decorrer nos cinco municípios que integram o Vale do Tua. A edição deste ano terá o seu começo no dia 23 de Março, em Mirandela, com a realização de um Seminário que irá abordar a importância do turismo de natureza e dos percursos pedestres homologados no desenvolvimento dos territórios. Será certamente uma jornada de partilha de conhecimentos e de experiências, de reflexão e de discussão, sobre os melhores caminhos a adoptar com vista à edificação de um futuro sustentável com base no pedestrianismo e nos percursos pedestres. Neste contexto, irei participar, na qualidade de Coordenador Pedagógico do Centro de Formação da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP), no segundo painel do Seminário, sobre Pedestrianismo e Segurança, com uma comunicação intitulada “Gestão de Grupos em Actividades de Pedestrianismo: formação, treino e segurança”. Em breve serão disponibilizadas mais informações, tal como a abertura das inscrições, no site do evento.



segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

NATUREZA VIVA

 



A Borealis On Trekking, a Associação Portuguesa de Saúde Ambiental e a Hapiness Business School vão realizar, no próximo dia 31 de Janeiro, das 10:00 às 12:00, um conjunto de palestras sob o tema "Natureza Viva: Trilhos para o Bem-Estar e Saúde". Segundo os organizadores, será «uma ocasião única para ouvir descobertas incríveis sobre como caminhar na natureza pode ser extraordinariamente benéfico para a sua saúde».

Os palestrantes que vão partilhar as suas ideias sobre como a natureza afecta o nosso bem-estar são:

· Pedro Cuiça – Director Técnico da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal e «escritor apaixonado» por pedestrianismo e percursos pedestres, vai partilhar as suas experiências sobre o impacto transformador das caminhadas na natureza;

· Joana Barros – médica de medicina geral e familiar, oferecerá perspectivas valiosas sobre o impacto da natureza na saúde física e mental;

· Karine Silva – bióloga e psicóloga, discutirá as suas investigações sobre como os ambientes naturais potenciam a saúde;

· Diogo Sousa Gomes – especialista em Saúde Ambiental;

· Hugo Palma – aventureiro organizador de expedições pela natureza e engenheiro aeronáutico.

A participação é gratuita, mas as vagas são limitadas, sendo necessário efectuar a inscrição através do e-mail pedro@boreal.com, colocando apenas no assunto:
"Natureza Viva".

Juntem-se a nós e venha descobrir como a natureza proporciona um significativo incremento da nossa saúde e bem-estar.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Continuamos o andamento

 

Ilha de S. Jorge © Anabela Trindade (1999)


Pedestris – Andanças & Encantamentos surgiu no dia 15 de Novembro de 2013, faz hoje exactamente uma década. Com ritmos de publicação variáveis, umas vezes mais rápidos, outras tantas mais lentos, e até com paragens para retomar o folego, a vivência deste blogue sobre o “andar a pé” desenvolveu-se, naturalmente, como as passadas num percurso pedestre concreto… no terreno. O caminho foi marcado pela publicação de 802 posts; apenas um número, mas já é qualquer coisa... Estas andanças virtuais, com altos e baixos, onde se evidencia a chegada da Covid-19 e a sua influência nos anos subsequentes, retomou uma boa cadência de marcha, neste ano de 2023, e fazemos votos de aguentar o passo por mais uma dezena de anos. Assim haja saúde e motivação…

No ano de 2013 anunciámos o alvor de um novo "ciclo pedestre", que não só se intuía como se tornava evidente: o surgimento de «novos caminhos, certamente mais desafiantes e estimulantes», que constituíram, podemos hoje confirmar inequivocamente, «uma renovada motivação para escrever e partilhar vivências». Na sequência da apresentação, em jeito de fim de ciclo, da palestra Ecosofia PC – Um ensaio de an-danças mais além, em Outubro de 2013, na Cooperativa Terra Chã, situada nas faldas da Serra de Candeeiros (a ancestral Serra da Lua), e dos eventos que se lhe seguiram, tornou-se inadiável dar o passo de lançar o blogue Pedestris – anDANÇAs e enCANTAmentos. O título deste blogue surgiu numa das corridas matinais que efectuei todos os dias, durante as férias do Verão de 2013, no areal que se estende da Praia de Faro até à Barrinha. Como nesse Verão, continuamos a pensar que: «Correr, tal como andar, surge como uma "meditação activa" que, quando enquadrada por vastos horizontes, resulta invariavelmente em profícuas ideias». Andar é, sem dúvida, inspirador…

Na primeira publicação do Pedestris – Andanças & Encantamentos, referimos a coincidência (há quem diga que não há coincidências) de «estar uma Lua Cheia fantástica». Hoje está uma quasi Lua Nova, já com uma nesga de crescendo, e é nesta conjuntura que revelamos a intuição de um novo ciclo a desenhar-se. Novas ou renovadas formas de pensar e de andar. Haja vontade de andar, disponibilidade para se encantar e caminho para palmilhar.

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Da raridade das florestas

 



É impressionante quando se viaja de avião e/ou noutros meios de transporte e se visualizam vastas extensões desprovidas de árvores… Por vezes, mesmo, terras escalvadas, destituídas da mais elementar vegetação ou apenas pontilhadas, aqui e acolá, por diminutas e esparsas ilhotas de coberto vegetal. Em vastas regiões planas esse sentimento da paisagem, desflorestada, é perfeitamente perceptível para quem viaja de carro ou de comboio. Já nas regiões montanhosas essa impressão revela-se, por vezes, melhor quando se visualiza o território a partir de cima, de uma altitude considerável. Essas experiências da raridade ou rarefação do coberto vegetal, mais especificamente de áreas florestadas, dá-nos uma noção muito precisa da necessidade imperiosa não só de proteger como também, e sobretudo, de valorizar esses ecossistemas.

Senti essa espantosa impressão ao sobrevoar grande parte do território do Canadá, no ano passado, tal como, curiosamente, nas áreas florestadas das Montanhas Rochosas, onde tive oportunidade de andar a pé e de presenciar algumas das vulnerabilidades e desafios desses ecossistemas vegetais, profundamente impactados pelas alterações climáticas, entre outras problemáticas. E voltei a sentir algo de muito semelhante, este ano, ao deslocar-me de avião e de comboio numa grande extensão da Polónia. A diferença é que uma das florestas onde tive o grato privilégio de caminhar me surpreendeu enormemente pela positiva. Ainda existem, felizmente, florestas que merecem esse epíteto...


PC © Bazantarnia (Polónia, Out.2023)


PC © Bazantarnia (Polónia, Out.2023)

PC © Bazantarnia (Polónia, Out.2023)

PC © Bazantarnia (Polónia, Out.2023)


PC © Bazantarnia (Polónia, Out.2023)


PC © Bazantarnia (Polónia, Out.2023)

PC © Bazantarnia (Polónia, Out.2023)


terça-feira, 12 de setembro de 2023

Saudação




«O chão onde me sento com a Avó Sitka está coberto por uma camada profunda de caruma, amaciado por anos de húmus; as árvores são tão velhas que a minha vida comparada com a sua tem uma mera duração do canto de uma ave. Desconfio que Nanabozho caminhou como eu caminho, com assombro, de olhos erguidos para as árvores com tanta frequência que tropeço.

O Criador confiou a Nanabozho algumas tarefas no seu papel de Homem Original, as suas Instruções Originais. O ancião anishinaabe Eddie Benton-Banai narra de uma forma encantadora a história da primeira missão de Nanabozho: caminhar pelo mundo a que a Mulher do Céu tinha dado vida com a sua dança. As suas instruções ordenavam-lhe que caminhasse de tal forma «que cada passo fosse uma saudação à Mãe-Terra», mas ele ainda não tinha bem a certeza do que isso significasse. Felizmente, embora as suas pegadas fossem as do Primeiro Homem sobre a Terra, havia muitos caminhos a seguir, traçados por todos aqueles que já aqui viviam.

Poderíamos dizer que o tempo em que as Instruções Originais foram transmitidas que foi «há muito tempo» pois, na forma popular de pensar, a história traça uma «cronologia», como se o tempo marchasse em sintonia numa só direção. Há quem diga que o tempo é um rio no qual só podemos entrar uma vez, no seu curso direto para o mar. Mas o povo de Nanabozho sabe que o tempo é um círculo. O tempo não é um rio que corre inexoravelmente em direção ao mar, mas sim o próprio mar, as suas marés que fluem e refluem, o nevoeiro que se eleva para se transformar em chuva num rio diferente. Todas as coisas que existiram voltarão.

À maneira do tempo linear, as histórias de Nanabozho poderão ser entendidas como uma lenda mítica da história, um relato do passado longínquo e de como as coisas nasceram. Mas no tempo circular, estas histórias são simultaneamente história e profecia, histórias para um tempo ainda por vir. Se o tempo é um círculo de viragem, há um lugar onde a história e a profecia convergem – as pegadas do Primeiro Homem encontram-se no caminho atrás de nós e no caminho à nossa frente.

[KIMMERER, 2023: 210-211]

 



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

KIMMERER, Robin Wall. 2023. A Sabedoria da Terra – Como a natureza, a ciência e o conhecimento ancestral nos ensinam a tratar a terra com respeito. Barcarena: Marcador.