A última fase de inscrição, em 2024, no Mestrado em Ecologia Humana e Problemas
Sociais Contemporâneos começa hoje e estende-se até dia 26 de Agosto, na Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL). Uma oportunidade
única de frequentar um mestrado muitíssimo interessante para aqueles que
pretendam estudar as (inter)relações entre os humanos e os contextos bióticos e
abióticos do meio em que vivem. A complexidade inerente à componente cultural dos
humanos, sem esquecer as suas ligações (inatas) à natureza, assume um papel de
primordial importância num mundo cujas alterações climáticas, as ameaças à
biodiversidade e a poluição, entre outras variáveis, levantam desafios a que é
fundamental dar resposta.
Segundo
Eugene Odum, o ensaio Man’s Place in Nature, de Thomas Huxley, tipifica
a atitude dos biólogos do século XIX perante o “homem” e o seu ambiente. E
acrescenta (1988: 816):
«Reflectindo a influência
do Darwinismo, estes biólogos do passado abordavam o papel do homem na natureza
do ponto de vista da sua linhagem ou parentesco natural com os outros
organismos. Depois de mais de 50 anos, a ideia do parentesco evolutivo com a
natureza começou a ser aceite por uma maioria de pessoas, e a atenção
voltou-se, então, para a ideia de ligação natural do homem, ou interdependência
ecológica, com o biota, um conceito que hoje se encontra longe de ser
universalmente aceite.»
Afortunadamente,
a ecologia humana foi capaz de adotar uma «perspectiva evolutiva, com a qual se
procura explicar como os seres vivos se modificaram e diversificaram ao longo
do tempo e os mecanismos que levaram a essa modificação, passando a incluir-se
o “homem” no processo evolutivo [das espécies] e, portanto, a considerá-lo
parte integrante da biosfera» (Avelar e Pité 1996 in Carvalho 2007: 128).
A integração do “homem” na natureza, o reconhecimento de que é natureza,
trata-se de um (re)posicionamento concetual de enorme importância e
abrangência, designadamente ao abrir caminho para o assumir de uma renovada
aliança holística com Gaia: o conceito de Lynn Margulis e James Lovelock
(1972), de uma Terra viva, como um sistema fisiológico único e auto-regulado (Lovelock
1996).
Uma
das singularidades da ecologia humana, que resulta em parte da sua transdisciplinaridade,
consiste na sua abrangência holística que, aliás, partilha com a ecologia
geral. Partilha que se estende à abordagem sistémica e ao estudo de assuntos de
enorme complexidade, «no que tal significa de variedade, complementaridade,
concorrência, incerteza, antinomia» (Carvalho 2007: 133). A importância da transdisciplinaridade,
que caracteriza a atual ecologia humana, traduz-se na abrangência de diversas
áreas do conhecimento científico, desde a sociologia à psicologia,
antropologia, etnografia e filosofia, entre outras. Transdisciplinaridade que
não deverá, todavia, ignorar as bases científicas resultantes de ciências
naturais como a geologia, a biologia ou a ecologia, entre outras. Eugene Odum,
num artigo publicado na revista Science (1975), reforça precisamente a
importância de estabelecer a ponte entre as ciências naturais e as ciências
sociais (ibid.). E a Ecologia Humana pode e deve ser essa importante
ponte.
Referências
bibliográficas
Carvalho,
Francisco. 2007. “Da Ecologia Geral à Ecologia Humana”. Sociológico 17(2):
127-135.
Lovelock,
James. 1996. GAIA – A Prática Científica da Medicina Planetar. Lisboa:
Instituto Piaget.
Odum, Eugene P.. 1988. Fundamentos de Ecologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 4ª ed..
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