terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

D'Eu/Montanha

PC © Pico (26/02/2017)

«All those moments will be lost in time… Like tears in rain… time to die.»
Rutger Haver no filme Blade Runner

A primeira vez que subi o Pico foi em 1998 e desde então tenho regressado reiteradamente a essa montanha, à Montanha. A primeira subida foi efectuada no âmbito da elaboração do livro Açores – Percursos Naturais/Azores – Nature Walks (Forum Ambiente, 2000) e nos anos seguintes repeti a ascensão, designadamente sozinho desde a Madalena (junto ao mar), tendo publicado artigos sobre a subida à Montanha em diversas revistas (Forum Ambiente, Ozono, etc.). Quis o destino que tivesse o privilégio de ser formador, da unidade curricular de Montanhismo, em duas acções de formação de Guias da Montanha e, nos últimos anos, ter guiado profissionalmente grupos até ao cume do Piquinho. Este ano cumprem-se, portanto, duas décadas de ligação à Montanha e, para celebrar esta data redonda, fui brindado pela primeira vez, no dia 22 de Fevereiro, com uma subida algo nevada (se fosse dois dias depois teria apanhado neve a valer!), tal como com o grato prazer de assistir à criação da Associação de Guias de Montanha dos Açores (AGMA). Se tudo correr de feição espero contar mais 20 anos de ascensões, porque a Montanha continuará aí... Porque o caminhar/caminho pode e deve materializar-se no terreno – na Montanha –, mesmo que no futuro se venha a cingir tão somente a uma metáfora da vida e, portanto, da morte. Será nessa Altura que não haverá distinção entre o Eu e a Montanha?... 


Júlia Custódio © Pico (22/02/2018)
Paula Bernardo © Pico (22/02/2018)

PC © Pico (22/02/2018)




Ver: D'a Sacralidade da Montanha

A Montanha É


PC © Pico

«Montanha do meu segredo
Montanha do meu destino
(…) Montanha da minha sorte
Oh! Génio do meu viver
Encomenda-me na morte
Quando me vires morrer.»
(FRANCO, 2014: 19)

«A janela do meu quarto dava para a «Montanha», morreria contemplando-a, não haveria melhor morte. (…) queria morrer contemplando a «Montanha» (…)»
(FRANCO, 2014: 18)

«HÁ TRINTA anos que acordo, corro as cortinas do meu quarto e avisto a Montanha que dá nome à ilha, ilha do Pico. Ela está lá, sempre. Por vezes, só a vislumbro, apagada por um denso capacete de nuvens. Mas sei que, para além da espessa neblina, ou de uma opaca barreira de chuva grossa, ela está lá sempre. Solitária. Imutável. Triangular. Mineral. Bela. E começo o dia como se fosse o primeiro da minha vida, melhor, o primeiro dia da minha vida desde que cheguei ao Pico para ocupar a casa da Avó Álvara. Lavo-me, visto-me e preparo o pequeno-almoço. A Montanha avisa-me de que, em tempo, pouco é a vida humana comparada com a existência de massas minerais, de que para ela ontem significa milhões de anos e amanhã outros milhões.

Esta acção existencial profiláctica que pratico todas as manhãs – invariavelmente – reduz o horizonte das minhas ambições e inquietações.»
(FRANCO, 2014: 22)

PC © Pico

«Estou certa de que pouco desejo da vida porque vivo à sombra da Montanha. A sua sombra não é opressiva. Pelo contrário, é profundamente libertadora. Conviver todos os dias com algo ou alguém que nos é infinitamente superior não nos amesquinha nem nos humilha. Reduz-nos à nossa pequena dimensão, ao horizonte exíguo das nossas dúvidas. Sabemo-nos limitados. Não estreitos, não mesquinhos. Apenas limitados. Seríamos outros se a nossa altura e a nossa largura possuíssem a dimensão da Montanha e seríamos outros se a nossa existência tivesse a sua duração. Mas não tem. A seu lado, somos insectos. Eis uma boa comparação. Somos para ela como a formiga para nós. Não vale a pena uma formiga rivalizar com um homem. Assim também não vale a pena rivalizar com a Montanha. Sentimo-nos livres. Não para votar ou para escolher marcas de leite no supermercado. Mas para viver. Viver mesmo (…)»
(FRANCO, 2014: 23)

«A mineralidade eterna da Montanha tem este condão: desperta-nos para os momentos perenes da vida, apagando da nossa mente a insignificância do dia-a-dia. Torna-nos livres para apreciarmos os verdadeiros instantes em que vale a pena viver. O nosso olhar, carregado da Montanha, tem sobre a vida uma visão perscrutadora – o que interessa é saboreado; a vanidade, o supérfluo, a banalidade, são abandonados. Com a prática, estes escapam-se-nos entre os dedos, não lhes prestamos maior importância do que a que dispensamos a um carro que por nós passou e já desapareceu.

A Montanha ajudou-me a nivelar a minha relação com deus. Massa pétrea colossal, nela projectei o meu sentimento de transcendência. Deixei de precisar de uma sublimidade religiosa, um deus metafísico exterior ao mundo. Basta-me saber que o sagrado com ela se identifica, que a sua altitude, como uma divindade telúrica, marca as modalidades do tempo climatérico e o horizonte da minha vida e do meu pensamento, que ela acolherá o meu corpo na morte. Na Montanha me dissolverei como um budista acredita dissolver-se na eternidade cósmica do Nada. O cemitério onde repousarei conterá, por baixo, a lava primitiva da ilha e, por cima, as escorrências milenarias vivas da sua erosão, transformadas em pedra negra. Assentarei definitivamente entre dois deuses naturais – a lava de pedra e a terra da vida –, como se assentasse no colo de deus, protegida pelos seus braços e o seu hálito. Não preciso de outro deus, chega-me a Montanha. Entendo o Espírito Santo como o Espírito da Montanha, sempre presente na ilha, modelando-a geograficamente e modelando o viver dos homens em torno do mar. A Montanha é o meu Espírito Santo, a morada da minha alma, em vida e na morte. Dissolvendo o meu corpo na Montanha, serei eterna através dela, do seu ritmo cósmico e das suas manifestações de vida. Como religião, a Montanha chega-me – de manhã, quando corro as cortinas e a vejo, é como se o meu quarto se tivesse transformado num altar de adoração ao Senhor. O Senhor é a Montanha.»
(FRANCO, 2014: 24-25)

PC © Pico


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FRANCO, Luísa. A Montanha e o Titanic. Lisboa: Edições Parsifal, 2014, pp. 196. ISBN 978-989-98521-3-6



segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Conversas de Montanha



Na próxima sexta-feira (2 de Março) começa o ciclo de palestras Mountain Talks, uma iniciativa de Nelson Cunha que irá decorrer na Escola Superior de Educação do Porto, ao longo do presente ano, com base em diversas “carreiras” com o denominador comum da montanha. Lá estarei para falar um pouco sobre o meu percurso no âmbito da caminhada à marcha de montanha e sobretudo sobre as especificidades e singularidades do Passo a Passo   Manual de Caminhada e Trekking.



segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Opulência!

Everest © na Net (?)

«A medida que una mayor opulencia se ha ido difundiendo por todos los países industrializados, ha habido un aumento de la cantidad de dinero destinado a actividades de tiempo libre. Un primer cambio en este campo fue la aparición de los deportes de masas.
(…) En el siglo XX ha habido un importante incremento del número y la duración de las vacaciones pagadas para todos los trabajadores, lo que, junto com la mayor riqueza, ha provocado la aparición de una industria completamente nueva: el turismo. En el siglo XVIII sólo la elite europea se podía permitir pasar varios años viajando por todo el continente en el «Grand Tour», admirando en particular los grandes clásicos de Italia. Algunas personas más podían tomar las aguas en balnearios como Bath, Harrogate, Marienbad y Carlsbad, o disfrutar de la brisa marina, pero todos los viajes eran difíciles, lentos y caros, y los viajes al extranjero quedaban reservados a una pequeña minoría. La construcción de la red ferroviaria cambió radicalmente la situación. Thomas Cook organizó el primer tren especial de excursiones, de Leicester a Loughborough, el 5 de Julio de 1841 com 750 pasajeros, cada uno de los cuales tuvo de pagar un chelín. Fue el comienzo de un súbito auge de los viajes organizados que se desarrolló a medida que se fueron construyendo vías férreas, se introdujeron nuevos barcos a vapor y la gente tuvo más dinero para gastar y más tiempo libre en el que gastarlo. Los viajes se convertieron en turismo. Al principio, la clase obrera más rica y la clase media menos acaudalada se tuvieron que limitar en gran medida a pasar sus vacaciones en su país, en los incipientes centros de veraneo de la costa, y sólo los más ricos podían aventurarse por el extranjero. Gradualmente se empezó a viajar más al extranjero com la aparición de las vacaciones «organizadas». Firmas como Thomas Cook ofrecían viajes organizados, vendiendo bonos de hotel y dando facilidades para el cambio de divisas (los cheques de viaje American Express aparecieron en 1891). Al principio el mercado se limitaba prácticamente al continente (Suiza era el destino preferido), pero en 1869 Cook lanzó el primer viaje organizado a Egipto y Palestina, y a finales de siglo los cruceros y los viajes al Próximo Oriente eran frecuentes tanto desde Europa como desde Estados Unidos. A medida que se desarrolló este sector también creció el numero de hoteles (al principio, muchos de ellos eran propriedad de las líneas de ferrocarriles o estaban asociados com ellas), y el de guías turísticas; la guía Michelín de hoteles franceses apareció en 1900 y la primera guía AA de hoteles británicos salio en 1911.
El auge del coche aumentó la diversidad de vacaciones disponibles y la demanda de más instalaciones; en 1926, Estados Unidos tenía más de 5.000 motor camps por todo el país para acomodar a los turistas. A medida que el aumento de la riqueza empezó a llegar a la base de la escala social aparecieron nuevas oportunidades de ofrecer vacaciones baratas, una tendencia que comenzó en Gran Bretaña en 1937 cuando Billy Butlin inauguró su primer campamento en Skegness. Pero fue el desarrollo masivo del transporte aéreo  civil después de la Segunda Guerra Mundial, junto com los ingentes incrementos de la riqueza del mundo industrializado, lo que abrió camino al turismo de masas por todo el mundo. La introducción de la clase económica y vuelos chárter baratos amplió aún más el mercado.
(…) El turismo es en la actualidad una importante fuente de ingresos para muchos países, constituyendo una gran parte de la riqueza nacional de algunos de ellos»1. (…) El turismo, nacional e internacional, se há convertido en un rasgo aceptado de la forma de vida de la mayoría de los habitantes del mundo industrializado2
[PONTING, 1992: 443-446]

Algures © na Net (?)

NOTAS
1. O All-garve (?), no contexto português, é disso um “bom” exemplo e a propósito (ou a despropósito), virá à colação, a pequena nota que publiquei ontem no Facebook sobre a prospecção/exploração de hidrocarbonetos na plataforma continental algarvia:
«DEIXEM-NOS TRABALHAR ou nem por isso?!
Há quem esteja contra e quem esteja a favor: "tudo normal em Que(r)luz ocidental", numa democracia em que supostamente se pretenda e deseje a liberdade e o pluralismo de opinião... Há quem considere que os que estão contra a "exploração de petróleo" no Algarve são umas "cavalgaduras", tal como há quem pense – em "amaricano" – que "there are to kinds of geologists: the ones that study the Earth and the others that fuck or help to fuck the planet". Mais uma vez, pontos de vista. Curioso é o ponto de convergência, da maioria daqueles que defendem posições opostas, em torno do trabalho (do tripalium): uns defendem o trabalhinho na indústria extractiva, os outros na exploração dos recursos turísticos. Afinal, estarão no mesmo ramo – do "ordenhamento" do território – mas ainda não deram (ou não querem dar) conta. Haverá alguém numa terceira via? Certamente, mas serão poucos.»
2. Sobre esta temática "do progresse, da requeza e do desenvolvimente" do desporto/turismo, que se tornou de massas, recomendamos as seguintes leituras: Antrópos; Átropos; D’a Razão de Ser; Ar Livre (II); Ar Livre; Campismo Pedestre; Turismo Desportivo; It’s (the) Time; Pobres Milionários; Algo (II); Algo; Ecological Footprint; The Camping Way.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
PONTING, Clive. Historia Verde del Mundo. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica, 1992, pp. 586. ISBN 84-7509-840-1



sábado, 17 de fevereiro de 2018

Dança e Canta


© na Net (?)

Simplicidade, simplicidade, simplicidade!
(…) Simplificar, simplificar.
Henry David Thoreau
(Walden ou A Vida nos Bosques, 1999: 109)

Com TEMPL'A(c)ÇÃO: «Simples nos meios, ricos nos fins», por caminhos de anDANÇAs e enCANTAmentos...

«Alan Watts, que procurou interessar os espíritos ocidentais nas tradições do Oriente, usou para esse processo uma imagem muito antiga, «o convite à dança», e sugeriu que «os caminhos da libertação mostram com toda a clareza que a vida se não dirige a lugar algum, pois ela já aí está. Por outras palavras, ela é jogo, e aqueles que não jogam com ela, perderam muito simplesmente o fio à meada».
Watts apoia-se nos sábios taoistas, nas histórias sufi, no zen e na psicologia de Carl Jung para demonstrar o processo da compreensão espontânea. Reconhece, contudo, que dizer: «tens de ser espontâneo» é ainda reforçar o laço que funciona como um colete de forças da consciência, no espírito ou ethos moderno.
O segredo está em sermos capazes de aceder a um novo encantamento. Como diz Watts: «Numa vida feita de espontaneidade, a consciência humana passa, de uma atitude de atenção forçada e intencional, para o koan, a atitude de atenção aberta ou contemplação.» Eis um elemento-chave no desenvolvimento da consciência ecológica. Essa atitude constitui a base de uma aproximação mais «feminina» e receptiva» ao amor, uma atitude que, precisamente por essa razão, é mais atenciosa para com as mulheres.
Em certas tradições orientais, o estudante é confrontado com um koan, uma história ou afirmação muito simples que, superficialmente, pode soar paradoxalmente ou sem sentido mas, à medida que o estudante dá e torna a dar voltas à cabeça, a compreensão autêntica emerge. Essa acção directa de descobrir por si próprio, de tentar ver de perspectivas diferentes e a profundidades diferentes, é necessária a quem queira cultivar a consciencialização. A frase do tipo koan para a ecologia profunda, sugerida pelo eminente filósofo norueguês, é esta: «simples nos meios, ricos nos fins».»
[DEVAL & SESSIONS, 2004: 25]

"Dance in the Woods", coreografia de Fred Daniels e Margaret Morris (década de 1920) © na Net (?)


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
DEVALL, Bill & SESSIONS, George. Ecologia Profunda – Dar prioridade à natureza na nossa vida. Águas Santas: Edições Sempre-em-Pé, 2004, pp. 292. ISBN 972-8870-01-9
THOREAU, Henry David. Walden ou A Vida nos Bosques. Lisboa: Antígona, pp. 368. ISBN 972-608-106-8

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Antrópos

Lamentemos aqueles que nunca puderam isolar-se e não sabem viajar senão em grupo. São pessoas que afugentam na sua frente, para onde quer que se dirijam, a soledade e o recolhimento.
Norbert Casteret
(Dez Anos Debaixo da Terra, 1945: 7)


«Somente se caminharmos sozinhos em silêncio, sem bagagem, poderemos verdadeiramente penetrar no coração da natureza selvagem. Qualquer outro tipo de viagens não passa de poeira e hotéis e bagagem e tagarelice.»
[John Muir in DEVALL & SESSIONS, 2004: 139]

© na Net (?)

«O Lazer ao ar livre tornou-se um problema conceptualmente identificado nos tempos de Roosevelt [1858-1919], quando as ferrovias que tinham expulsado o campo da cidade começaram a transportar citadinos, en masse, para o campo. Começou a notar-se que quanto maior o êxodo, mais pequena era a ração per capita de paz, solidão, vida selvagem e beleza paisagística, e mais longíqua a migração capaz de as alcançar.
O automóvel espalhou estes inconvenientes, outrora moderados e localizados, até aos limites extremos das boas estradas1 – tornando escasso no interior do país algo outrora abundante em qualquer terreola. Mas esse algo tem não obstante que ser encontrado. Como os iões emitidos do sol, os que partem aos fins de semana irradiam de todas as cidades, gerando calor e fricção à sua passagem. A indústria turística fornece cama e mesa para atrair mais iões, mais depressa, mais longe. Cartazes publicitários fixados sobre as rochas e leito dos rios comunicam a toda a gente a localização de novos refúgios, paisagens, campos de caça e lagos de pesca, logo adiante daqueles que acabaram de ser devastados. Departamentos da administração constroem estradas em novas regiões afastadas, e depois compram mais terrenos afastados para absorver o êxodo acelerado pelas estradas. A indústria de acessórios fornece almofadas para proteger os clientes da natureza em bruto; a arte de viver na floresta torna-se a arte de usar essa quinquilharia. E agora, para coroar a pirâmide de banalidades, a caravana automóvel. Para quem procura nos bosques e montanhas apenas aquilo que poderia também obter viajando ou jogando golfe, a situação presente é tolerável. Mas para quem procura algo mais, o recreio de ar livre tornou-se um processo autodestrutivo de procurar sem nunca verdadeiramente encontrar, uma enorme frustração da sociedade mecanizada2.»
[LEOPOLD, 2008: 159]

© na Net (?)

«(…) nós vivemos, como disse [Henry David] Thoreau, numa «espécie de vida limítrofe» entre o primeiro mundo da natureza e o segundo mundo da sociedade tecnocrática-industrial. E, prossegue Thoreau, «nunca se ganha coisa alguma mas perde-se sempre alguma coisa». À medida que alguns seres humanos aumentam enormemente a sua capacidade de análise e de domínio sobre as paisagens, com vastos projectos de construção, sistemas de mísseis, etc., eles parecem perder alguma da sua capacidade de compreensão, de densidade de pensamento e de dança meditativa perante a maravilha do cosmos.»
[DEVALL & SESSIONS, 2004: 139]

Multidão no Everest © na Net (?)

NOTAS
1. Tenhamos em conta que a primeira edição desta obra icónica de Aldo Leopold (1887-1948) foi publicada, sob o título A Sand County Almanac, em 1949. Já nessa altura era evidente que a protecção devida à inacessibilidade do terreno deixava de funcionar face ao grande incremento das actividades de ar livre, especialmente quando a construção de (novas) vias de comunicação, por si só, facilitava o acesso (CUIÇA, 2012).
2. Imagine-se o que Thoreau pensaria da realidade actual dos transportes motorizados, públicos e privados, mormente dos aviões a jacto – essas lo(u)co-motivas voadoras dos tempos (pós)modernos, que facilitaram e banalizaram o transporte de turistas até aos mais exóticos destinos, e da hegemonia dos combustíveis fósseis (não só carvão mas também petróleo e outros "primores"!)  que “democratizaram” e levaram a poluição até aos mais remotos pontos da Terra.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CASTERET, Norbert. Dez Anos Debaixo da Terra – Memórias de um explorador de cavernas. Porto: Livraria Tavares Martins, 1945, pp. 256.
CUIÇA, Pedro. Montanhismo e Ambiente – A conservação da natureza em Montanha. Lisboa: Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, revista Campismo & Montanhismo, Série I, Jul.-Set. 2012, p. 24-25.
DEVALL, Bill & SESSIONS, George. Ecologia Profunda – Dar prioridade à natureza na nossa vida. Águas Santas: Edições Sempre-em-Pé, 2004, pp. 292. ISBN 972-8870-01-9
LEOPOLD, Aldo. Pensar Como Uma Montanha. Águas Santas: Edições Sempre-em-Pé, 2008, pp. 220. ISBN 978-972-8870-10-2

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Átropos

...a LO(u)CO-MOTIVA!

© na Net (?)

«O caminho de ferro de Fitchburg atinge o lago [Walden] a pouco mais de quinhentos metros a sul de ondo moro1. Costumo ir à cidade [de Concord] pelo caminho dos pedestres, que é, por assim dizer, o meu vínculo com a sociedade. Os trabalhadores, nos comboios de carga que percorrem a linha inteira, cumprimentam-me como a um velho conhecido, já que tantas vezes passam por mim tomando-me aparentemente por um empregado; e lá isso sou. Também eu seria, de bom grado, consertador de trilhos em qualquer lugar na órbita da Terra.
(…)
Quando avisto a locomotiva com os seus vagões a deslocarem-se em movimento planetário – ou melhor, como um cometa, pois o espectador, com aquela velocidade e direccção, não sabe se voltará a visitar algum dia este sistema, já que a sua órbita não dá a impressão de uma curva que retorne – e as nuvens de vapor como bandeira desfraldando atrás de si grinaldas de ouro e prata, mais do que outras tantas nuvens suaves que já vi no alto dos céus desdobrando as suas massas para a luz – como se este semi-deus viageiro, este propulsor de nuvens, fosse dentro em pouco adoptar o crepúsculo como libré do seu cortejo; quando ouço o cavalo de ferro fazer os morros ressoarem com relinchos de trovão, estremecendo a terra com as patas, despedindo das ventas fogo e fumo (não sei que espécie de cavalo alado ou de dragão fogoso inventarão para a nova mitologia), até parece que a Terra já arranjou uma raça digna de habitá-la. Se tudo fosse como parece e os homens tomassem os elementos como criados seus ao serviço de fins nobres! Se a nuvem que paira sobre a locomotiva fosse a transpiração de façanhas heróicas, ou tão benfazeja como a que flutua sobre os campos do lavrador, então os elementos da própria Natureza acompanhariam alegremente os homens e dar-lhes-iam escolta nas suas missões.
(…)
Fazer as coisas «à moda da ferrovia» é agora expressão corrente; e vale a pena ser advertido, com frequência e franqueza por qualquer autoridade, para desimpedir o caminho. Não há pausas para admoestações severas, nem, neste caso, tiroteio sobre a cabeça da turba. Construímos um fado, uma Atropos, que nunca se desvia. (Chamemos assim à locomotiva.)»
[THOREAU, 1999: 134-137]

© na Net (?)

Tal como em Walden, na obra Uma Semana nos Rios Concord e Merrimack, «o caminho-de-ferro e outros agentes da industrialização» voltam a ter um papel impactante e «duradouro na paisagem» (Daniel Peck in THOREAU, 2018: 24).

«A areia havia sido varrida pelo vento nalguns locais até uma profundidade de três metros, deixando montículos grotescos dessa altura, onde se via um maciço de arbustos fortemente enraizados. Segundo nos disseram, há trinta ou quarenta anos, aquilo era uma pastagem de ovelhas, mas os animais, importunados pelas pulgas, puseram-se a escavar o solo com as patas até atingirem a camada de erva, de modo que a areia começou a ser arrastada, estendendo-se agora ao longo de quarenta ou cinquenta acres. Isto podia ter sido facilmente remediado, ao princípio, espalhando bétulas com as respectivas folhas pela areia, fixando-as com estacas, para cortar o vento. As pulgas mordiam as ovelhas, e as ovelhas mordiam o solo, e a ferida estendeu-se. É espantoso como uma pequena arranhadela pode dar origem a uma chaga de tais dimensões. Quem sabe se o Sara, onde caravanas e cidades estão enterradas, não terá começado com a mordidela de uma pulga africana! Esta pobre Terra, quanta comichão deve sentir em muitos locais! Não haverá nenhum deus suficientemente misericordioso para espalhar um ungueto de bétula nas suas feridas? Também aqui pudemos identificar um local em que os índios haviam juntado um monte de pedras, porventura para o fogo de conselho, que, devido ao seu peso, impediram que a areia sob elas fosse varrida, tendo assim ficado no topo de um montículo de terra [ao estilo de chaminés de fada]. (…) Durante a viagem, vimos outras zonas arenosas, e podíamos mesmo reconhecer o curso do Merrimack desde a montanha mais próxima pelas suas margens de areia amarela, embora o rio fosse praticamente invisível. Segundo ouvimos dizer, estas situações deram origem nalguns casos a processos nos tribunais. Com efeito, construíram-se linhas de caminho-de-ferro através de regiões sensíveis, quebrando a sua camada protectora de erva e permitindo assim que a areia fosse arrastada pelo vento, o que acabou por converter quintas férteis em desertos, pelo que a companhia teve de pagar indemnizações.»
[THOREAU, 2018: 227-228]

«Quando Thoreau via rolar as máquinas a vapor da linha de Fitchburgo por Walden Pond, «com as carruagens a desaparecerem num movimento planetário», vinha-lhe à mente as três irmãs Parcas da Grécia antiga: a primeira fiava a linha da vida; a segunda lançava os dados que marcavam o destino de cada mortal; a terceira era Átropos, cujo nome significa «que nunca se desvia». Átropos segurava a tesoura que cortava o fio da vida.
Thoreau sabia que uma nova força da Natureza estava em movimento. E escreveu: «Construímos um destino, uma Átropos, que jamais se desvia. (Que seja esse o nome do vosso engenho.)»2»
[WEINER, 1991: 83]

© na Net (?)

NOTAS
1. Thoreau viveu, durante cerca de dois anos (1845-1846), numa cabana, junto do lago Walden, naquilo que é vulgar e erroneamente interpretado como uma espécie de “isolamento eremítico”! Tal concepção resultará de leituras superficiais de Walden ou, o mais certo, de quem, nunca tendo lido o livro em questão, engendrou essa “concepção alternativa” através da leitura de uma outra obra, famosa nos meios ambientalistas, da autoria de Ralph Waldo Emerson: A Natureza. Foi esse autor que escreveu: «(…) era Henry David Thoreau, que às tantas fez mesmo a experiência de ir viver vários anos para uma cabana à beira do Walden Pond (...) em solidão e monasticismo radicais, para comungar intimamente com a Natureza à maneira de Diógenes o Cínico (a experiência foi bem sucedida e Thoreau voltou para casa para escrever sobre o assunto)» (EMERSON, 2001: 10).
2. Traduções à parte, fica – em jeito de exercício de reflexão ou de cogitação, como queiram – a seguinte questão: quais serão as "lo(u)co-motivas" ou as mudanças previsíveis no nosso mundo e nas nossas vidas, digamos nos próximos 10 ou 20 anos? O exercício poderá abarcar o vasto condomínio que é a Terra, como um todo, mas será talvez mais interessante, numa primeira abordagem, tentar prever aspectos mais terra-a-terra e do nosso dia-a-dia, não tanto de âmbito global mas sim local. Sendo que, citando Miguel Torga, «o universal é o local sem paredes» ou o mesmo será dizer: o local numa perspectiva holística será o universal.
Tendo em conta o grave défice cultural, da maior parte da população, designadamente de muitos daqueles que são considerados douto(re)s (!), no que concerne a conhecimentos basilares, e portanto essenciais, para uma visão esclarecida do mundo, mormente em matéria de geologia, paleontologia e ecologia, não nos atrevemos a propor desafios na ordem da centena de anos ou ousar, muito menos, abranger dimensões na ordem da unidade de tempo geológico (o milhão de anos!), ademais quando as mudanças nos tempos que correm são tão aceleradas quanto alienantes!...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EMERSON, Ralph Waldo. A Natureza. Cascais: Sinais de Fogo, 2001, pp. 108. ISBN 972-8541-23-6
THOREAU, Henry David. Walden ou A Vida Nos Bosques. Lisboa: Antígona, 1999, pp. 368. ISBN 972-608-106-8
THOREAU, Henry David. Uma Semana nos Rios Concord e Merrimack. Lisboa: Antígona, 2018, pp. 432. ISBN 978-972-608-300-9
WEINER, Jonathan. Os próximos 100 anos. Lisboa: Gradiva, 1991, pp. 392.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Liberdade


«Não sou do ortodoxo nem do heterodoxo; cada um deles só exprime metade da vida; sou do paradoxo que a contém no total.»
Agostinho da Silva (BRANCO, 2006: 26)

«Considerando-me paradoxal, dirigem-me o melhor elogio que eu poderia ter.»
Agostinho da Silva (BRANCO, 2006: 76)

«O mundo tem tantas possibilidades que até o impossível é possível.»
Agostinho da Silva (BRANCO, 2006: 44)


© na Net (?)

Faz hoje 112 anos que nasceu Agostinho da Silva. Esse Estranhíssimo Colosso1 que, na sua multifacetada complexidade, foi, antes de mais, um Homem simples e humilde, profundamente entusiasmado, culto e convicto… Um poeta à solta, exímio conhecedor da Idade Antiga, apaixonado pela Idade Média e arauto da Idade Futura do Espírito Santo.
Um pensador que não desdenharia o epiteto de “libertário”, porque libertador e cultor do exercício do «pensamento libérrimo» (BRANCO, 2006: 69), mas que não seria certamente circunscrito pelo mesmo. Difícil, se não impossível de “rotular”1, foi indubitavelmente um paladino da Liberdade, mormente no sentido de «todo o homem (…) ser aquilo que ele tem de ser: um criador sem nenhuma espécie de inibição» (Agostinho da Silva in MENDANHA, 1998: 56). E é, como ponto de partida, com base nessa sua faceta, que, na sequência dos últimos três postsForça, Sabedoria e Beleza –, abordamos hoje, em sua memória, a Liberdade no caminhar/caminho.  Lembremos que Agostinho, tendo sido um reiterado defensor da vadiagem e da errância – daqueles considerados «errantes, no sentido de que poderiam andar por aqui e por acolá» (in Conversas Vadias) –, abordou precisamente a Liberdade em Ritmos de Marcha (SILVA, 1990: 113-117).
O pensamento de Agostinho da Silva apesar de se (re)velar sob a forma de uma aparente simplicidade categórica e incisiva, oculta uma difícil e contraditória, senão paradoxal, complexidade. Tal como a vida é difícil2, o seu pensamento não é fácil. Facto constatável, desde logo, pela sua ascética afirmação da Liberdade «pela conquista e domínio de si mesmo, através do caminho único que têm apontado a experiência e os séculos: o caminho da ascese mais rigorosa e absoluta, da oração contínua e do amor dos homens em Deus e por Deus» (SILVA, 1990: 19). Um caminho único, porque assente na renúncia comum – saber «ser ascético no meio da abundância» e preferir «ao poder a santidade» (ibidem: 55) –, e simultaneamente múltiplo, porque palmilhado por cada um de forma diferente.
Uma forma difícil e pouco usual de entender a Liberdade, nos dias de hoje, tendo em conta que Agostinho não cria que «se possa definir o homem como um animal cuja característica ou cujo último fim seja o de viver feliz», embora considerasse que «nele seja essencial o viver alegre» (ibidem, 51).

«Os felizes passam na vida como viajantes de trem que levassem toda a viagem dormindo; só gozam o trajecto os que se mantêm bem despertos para entender as duas coisas fundamentais do mundo: a implacabilidade, a cegueira, a inflexibilidade das leis mecânicas, que são bem as representantes do Fado, e cuja grandeza verdadeira só se pode sentir no desastre; é quando a catástrofe chega que a fatalidade se mede em tudo o que tem de divino, e foi pena que não fosse esta a lição essencial que tivéssemos tirado da tragédia grega; como pena foi que só tivéssemos olhado o fatalismo dos árabes pelo seu lado superficial.
Por outra parte, é igualmente na desgraça que se mede a outra grande força do mundo, a da liberdade do espírito, que permite julgar o valor moral do desastre e permite superar, pelo seu aproveitamento, o toque do fatal; não creio que Prometeu estivesse alguma vez verdadeiramente encadeado: talvez o estivesse antes e depois da prisão; mas era realmente um espírito de liberdade e um portador da liberdade o que, agrilhoado à montanha, se sentiu mais livre ainda; porque podia consentir ou não no desastre, superá-lo ou não, ser alegre ou não. (…) No fundo é o seguinte: é necessário, ajudando a realizar o homem no que tem de melhor, que a mesma energia que se revelou pela física do mundo da extensão, se revele pelo espírito do mundo do pensamento e domine a primeira vaga de energia, como onda rolando sobre onda mais alto vai. E mais ainda: que pelo momento de infelicidade, o que não poderá nunca suceder no caso da felicidade, entenda o homem como as duas espécies ou os dois aspectos de energia se reúnem em Deus. Só por costume social deveremos desejar a alguém que seja feliz; às vezes por aquela piedade da fraqueza que leva a tomar crianças ao colo; só se deve desejar a alguém que se cumpra: e o cumprir-se inclui a desgraça e a sua superação.»
[SILVA, 1990: 51-52]

Agostinho defende a liberdade da sua própria disciplina, numa «espécie de vida militar» e simultaneamente monástica, a que não estranha os votos de pobreza – «do abandono do ter (…) libertando-se da posse», – de celibato – «livrando de que outros o possuam» e «livre também de tratar o outro como se fosse» sua posse – e de obediência – «que livra a pessoa de ser possuída por ela própria e de ter a ideia de que só serve para isto ou para aquilo» (in Conversas Vadias).
E, no entanto, esse pensamento que parece marcado pela fatalidade (a ideia de fatum), de renúncia e sofrimento, surge como rampa de lançamento – atitude – para os altos voos do Espírito Santo: «a pessoa de Deus na qual está o domínio do inesperado; daquilo que parece ser a Liberdade pura e não o destino» (ibidem). Atitude é altitude! E é «nesse abrir-se ao Espírito Santo, ao talvez absolutamente imprevisível, que cada homem encontra o caminho para se cumprir a si mesmo – a única exigência que se lhe faz» (BRANCO, 2006: 93). Também poderemos ver essa atitude como opção de andar à solta ou andar ao Deus dará, como se queira ou possa, sendo essa afinal (ou a-princípio) uma forma de acreditar, como o faziam (e fazem) os povos primais3, na Providência Divina, pondo de lado a previdência humana: «porque não reparamos talvez ainda suficientemente na pressa com que todos nós, homens supostamente religiosos, tratamos de entesourar o que tememos que amanhã pode esquecer à Providência de Deus, da qual, no entanto, continuamos a falar abundantemente: só, porém, a falar» (SILVA, 1990: 69). Nós, os ditos “civilizados”, «estamos tão afastados do natural como do sobrenatural, quando estes deviam ser os pontos centrais de nossa existência: plenamente vivemos no artificial» (ibidem: 69). Uma caminhada liberta ou rumo à libertação passará pelo regresso às nossas origens: «temos de voltar aos povos naturais, como uma etapa necessária para o caminho do sobrenatural, e sem dúvida voltaremos, ou por nossa livre vontade ou, como tantas vezes sucede àqueles a quem Deus mais ama, pela viva e contundente força de golpes exteriores» (ibidem: 70).

«Tudo o que faço no mundo
sem o fazer é feito
sobre o nada em que me deito.»
Agostinho da Silva (BORGES, 2006: 54)

© na Net (?)

NOTAS
1. Título da biografia de Agostinho da Silva, escrita por António Cândido Franco (Quetzal, 2015), em que, na contracapa, esse Colosso é caracterizado nos seguintes moldes: «prosador de altíssimos dons, narrador inventivo, cronista subtil, biógrafo monumental, pedagogo de largo esforço, monitor de fina manha, professor de sucesso, pensador destemido, poeta bissexto, gramático de muita língua, estóico severo, homem de desleixada túnica, entomologista, tradutor, criador do Centro de Estudos Afro-Orientais, escândalo bíblico, trickster, ogã de terreiro baiano, patriarca de larga tribo, povoador, amante, perrexil, poliglota, sonhador, farsante, polígamo, explicador, joaquimita, gato, galo, sábio, escuteiro, pop-star, colosso, bandeirante, franciscano anormal, homem do tá-tá-tá, aprendiz de valsa, cidadão do mundo, aldeão antigo, monstro, vadio truculento, marau divino, criança eterna, biógrafo de Miguel Ângelo, homem de cinco cabeças e dez instrumentos (…), o optimista, o entusiasta, sem a mais pequena mancha de desânimo no futuro.»
2. A VIDA É DIFÍCIL: é a fase com que começa o livro, de M. Scott Peck, O Caminho Menos Percorrido (Sinais de Fogo, 1999).
3. Para não utilizar a palavra “primitivos” pela carga pejorativa que, em geral, se lhe associa!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORGES, Paulo. Tempos de Ser Deus – A Espiritualidade Ecuménica de Agostinho da Silva. Lisboa: Âncora Editora, 2006, pp. 208. ISBN 978-972-780-177-0
BRANCO, João Maria de Freitas. Agostinho da Silva – Um Perfil Filosófico. Sintra: Zéfiro, 2006, pp. 118. ISBN 972-8958-19-6
FRANCO, António Cândido Franco. O Estranhíssimo Colosso – Uma Biografia de Agostinho da Silva. Lisboa: Quetzal, 2015, pp. 736. ISBN 978-989-722-186-6
MEDANHA, Victor. Conversas com Agostinho da Silva. Lisboa: Pergaminho, 1998, 9ª ed., pp. 128. ISBN 972-711-057-6
SILVA, Agostinho da. Educação de Portugal. Lisboa: Ulmeiro, 1989, pp. 80. ISBN 972-706-213-X
SILVA, Agostinho da. As Aproximações. Lisboa: Relógio d’Água, 1990, pp. 132.