domingo, 23 de dezembro de 2018
quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
Festejar a Montanha
Pedro Cuiça © Biblioteca de Montanha (Queijas, 2018)
Nestes dias em que se “(sobre)vive” (a) um afã híper-consumista,
ademais nesta que é designada a “época natalícia” (!), será pertinente
salientar a importância de apoiar os mercados livreiros de nicho, mormente
aquele que se dedica à montanha: editoras,
livrarias, alfarrabistas e autores, entre outros – como agora se costuma dizer –
stakeholders! O assunto num país como
Portugal fará pouco ou nenhum sentido, tendo em conta que a realidade editorial de montanha é praticamente
inexistente e o pouco que existe ou existiu é como se não existisse ou tivesse
existido!... Particularidades e/ou minudências, para muitos, de somenos num
país à beira-mar plantado e historicamente ancorado a uma gesta marítima que talvez
não se coadune com ambientes de montanha. No entanto, e tendo em conta a
globalização do consumo, designadamente com a possibilidade de comprar on-line produtos provenientes das mais
diversas partes desta aldeia global que é a Terra, se pretende ofertar algo, a um familiar, amigo ou mesmo a si próprio, aposte na literacia de montanha e não hesite em
apoiar os micro, “piquenos” e médios projectos editoriais que continuam a medrar em diversas
línguas por esse mundo fora, nomeadamente no “ arco alpino” (com destaque
para o francês, alemão e italiano), mas não só (também em inglês, espanhol e, pasme-se,
português). É nesse contexto, que aproveitamos para destacar um pequeno texto, sobre
a temática da literatura de montanha,
publicado no número de Dezembro da revista Montagne360. E, claro, é igualmente neste
contexto que desejamos Boas Festas a todos os leitores do Pedestris, se
possível de ar livre ou, caso contrário, numa boa viagem de sofá...
Pedro Cuiça © Editorial Desnivel (Madrid, 16/12/2018)
IL
COLLEZIONISTA
A cura
di Leonardo Bizzaro e Riccardo Decarli, Biblioteca della Montagna
Le collane – almeno da quando l’alpinismo è
diventato uno sport di massa, o quasi – hanno forse avvicinato alla pratica
della montagna più persone di quanto abbiano fatto le scuole del Cai. Lo han ben
intuito Pietro Crivellaro, che proprio alle “Cordate di libri” ha dedicato una
bella mostra per la decima Rassegna internazionale dell’editoria di montagna,
nel 1996 al Filmfestival di Trento, presentandone venti delle più importante,
da La
piccozza e la penna di Adolfo Balliano, nata nel 1929, alla
relativamente recente I Licheni di Vivalda. Tra le più note,
eppure sconosciute dal punto di vista bibliografico, c’è Montagne di Zanichelli,
che per i primi suoi titoli è stata curata nientemeno che da Walter Bonatti. Non
solo, ché a disegnarne la grafica, e la veste editoriale, è stato un genio come
Albe Steiner, il più bravo trai i grafici attivi nel mondo librario nostrano. Debuttò
nel 1961 la collana, con Le mie montagne (dodici ristampe fino
al 1981 e altre tre in economica), che Bonatti scrisse senza esserne ancora il
titolare. Dell’importanza di quel
libro, il più appassionante del suo autore, non occorre qui aggiungere altro. Vale
però la pena ricordare gli altri che lui volle collana, senz’altro con lo
zampino degli Enriques, proprietari della casa editrice dal 1946 e grandi
patiti della montagna. Eccoli: Il Gran Cervino curato da Alfonso
Bernardi, del 1963 ; Il quattordici ‘8000’ a cura di
Mario Fantin, del 1964; i due volumi di Il Monte Bianco, del 1965 e 1966, a
firma ancora di Bernardi (pure in elegante cofanetto telato e decorato, e anche
in volume unico): tranne Bonatti, la cui prima edizione sfiora spesso i 200
euro, gli altri si trovano di solito a cifre ragionevoli, um po’più caro solo
il Monte Bianco. Poi, al tempo dell’addio alla pratica della montagna, il più
mediato dei nostri alpinisti abandono anche quest’attività, passata prima ad Alfonso
Bernardi, poi all’ottimo Luciano Marisaldi.
[in
Montagne360, Dez. 2018: 77]
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Montagne360 – La rivista
del Club alpino italiano, Dezembro, 2018, pp. 80. ISSN 2280-7764
terça-feira, 18 de dezembro de 2018
Encuentro de Montañeros
Pedro Cuiça © Madrid (15/12/2018)
A Federação Espanhola de Desportos de Montanha e Escalada (FEDME)
realizou, na noite de 15 de Dezembro, a sua gala anual – Encuentro de Montañeros –
no Novotel Madrid Campo de las Naciones. Uma oportunidade única para constatar in loco a diversidade de áreas desportivas
e temáticas, tal como os elevadíssimos níveis de desempenho desportivo,
desenvolvidos no âmbito dessa federação, num país que é indubitavelmente uma
das maiores potências dos desportos de montanha a nível mundial. Essa foi
também uma ocasião ímpar para conhecer alguns dos atletas de topo nas áreas da
escalada, corridas de montanha e alpinismo, bem como para rever muitos e bons companheiros.
O Sentimento da Montanha
Rui Calado © Biblioteca Municipal de Lagoa (14/12/2018)
«O montanhismo (…), para além da componente física, será também uma
profunda experiência emocional, uma
atracção pela liberdade dos vastos
espaços verticais, pela grandiosa beleza
do mundo mineral, pela simplicidade
e rusticidade. Subir montanhas será
igualmente um meio de (re)ligação à
natureza, uma forma de transcendência… (…) “Um
fraco desejo de regressar lá ao alto surge um dia em nós. Assim recomeça o encantamento.”»
Pedro Cuiça (2010: 27)
A tertúlia sobre O Sentimento da Montanha: do imanente ao
transcendente, que decorreu no final do dia 14 de Dezembro na
Biblioteca Municipal de Lagoa (Algarve), resultou de uma proposta (melhor seria
dizer “desafio”), por parte da Dra. Maria Luísa Francisco, para abordarmos a vertente
“espiritual” do montanhismo. Um desafio certamente, tendo em conta essa forma
pouco “usual” de aproximação a ambas as temáticas, fenómeno que aliás já tínhamos
tido a oportunidade de constatar aquando da apresentação de semelhante “matéria”
(!) na Casa do Fauno.
A abordagem em causa iniciou-se através de um enquadramento
filosófico efectuado numa perspectiva assumidamente ocidental, tendo em conta
que o montanhismo teve origem nos Alpes e os seus paradigmas foram exportados para
o resto do mundo, com claras influências na sua praxis até aos dias de hoje. O Oriente não tem, de todo, o
exclusivo da “espiritualidade” e, nessa matéria, foi explanada uma perspectiva
do montanhismo consentânea com a riqueza “espiritual” do extremo Ocidente que é
esta Finisterra ibérica ainda hoje conhecida por Lusitânia, mormente à luz
daquilo que é costume designar por “filosofia portuguesa”. Da Montanha perfeita
ao foco no cume enquanto ara dea, do
sacro ofício de ascender montanhas às razões que animam essa actividade do profano (vale) ao sagrado (montanha) até ao “porquê?” e ao “para quê?” subir
montanhas. Uma via que nos conduziu ao “como?” fazer essas prática com base em
três conceitos-chave: imaginação, jogo e totalidade. Por fim, a/o
Montanha(ismo) enquanto metáfora: o Monte Abiegno, a anábase celeste e a transformação
da experiência da Montanha num modo de ser ao estilo de Julius Evola.
«(…) la verdadera realización, la superación
del elemento instintivo e irracional, la plena y firme autoconsciencia, es
decir, la transformación de la experiencia de la montaña en un modo de ser. Es
entonces cuando surge (…) el sentido de que todo o marchar, todo ascender, todo
conquistar, todo osar, es el único medio contingente de expresión de una
realidad inmaterial, lo cual podría tener muchos otros medios: y esto sería la
fuerza de aquellos que, en el fondo, pueden decir a sí mismos que nunca
regresamos desde las cumbres hasta la llanura, de aquellos a quienes no les
importa ni el ir ni el volver, porque la montaña está en su espíritu, porque el
símbolo se ha convertido en realidad (…).»
Julius Evola in Meditaciones
de las Cumbres (1974)
Rui Calado © Biblioteca Municipal de Lagoa (14/12/2018)
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
CUIÇA, Pedro. Guia
de Montanha – Manual Técnico de Montanhismo I. Lisboa: Federação de
Campismo e Montanhismo de Portugal/Campo Base, 2010. ISBN 978-989-96647-1-5
Pensar (como um)a Montanha
«Uma boa definição de homem, para além de suas limitações físicas, seria a de que é um ser de embrionária liberdade, cujo dever, cujo destino e cuja justificação é o da liberdade plena; plena para ele, plena para os outros, plena para os animais, plenas para as ervas, plena talvez até para seixo e montanha.»
Agostinho da Silva (1999: 262-263 in MARTINS, 2016: 112)
Um enquadramento filosófico sobre algumas evoluções marcantes no
pensamento humano, no âmbito da estética e da ética, que se traduziram, em três
séculos, numa mudança radical de paradigma: da alta montanha horrível à beleza
das montanhas. Das paisagens montanhosas, em segundo plano, dos quadros de Leonardo
da Vinci, passando pelas montanhas sagradas de Nicholas Konstantinovich Roerich,
às abordagens holísticas da paisagem de Jan C. Smuts. Das éticas
antropocêntricas às correntes de pensamento e às éticas ambientais com notórias
influências na origem do montanhismo: os pré-romantismo e o romantismo, o
transcendentalismo de Concord, a preservação da natureza de John Muir, a ética
da Terra de Aldo Leopold e a ecologia profunda de Arne Naess. Do alpinismo/montanhismo
enquanto actividade de ascender/escalar montanhas aos multifacetados desportos
de montanha…
Um caminho percorrido para chegar à questão: qual a feição do sentir/pensar
(como um)a montanha nos dias de hoje? Uma reflexão não só pertinente como
fundamental face às alterações climáticas com que temos de nos confrontar. A
guerra-pacifista actual passará inevitavelmente pela preservação das montanhas
e esse é o grande desafio lançado pela Organização das Nações Unidas no Dia
Internacional das Montanhas 2018 sob o mote “As montanhas são essenciais para
as nossas vidas”.
«Um uivo vindo das profundezas ecoa de orla em orla rochosa, rola
montanha abaixo e extingue-se na longínqua escuridão da noite. É a erupção de
uma dor selvagem e desafiadora, cheia de desdém por todas as adversidades do
mundo. (…) por trás dessas óbvias esperanças e medos reside um significado mais
profundo que só a montanha conhece. Só a montanha viveu o bastante para escutar
objectivamente o uivo do lobo.»
Aldo LEOPOLD (2008: 128)
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
LEOPOLD, Aldo. Pensar
como uma Montanha. Águas Santas: Edições Sempre-em-Pé, 2008. ISBN
978-972-8870-10-2
MARTINS, Pedro. A
Liberdade Guiando o Povo. Sintra: Zéfiro, 2016, pp. 190. ISBN
978-989-677-138-6
quarta-feira, 5 de dezembro de 2018
Montanhas em si
DR © Nikolai Konstantinovich Roerich (Kanchendzonga, 1944)
«Chama-se honroso a tudo o que parece difícil;
o que é indispensável e difícil ao mesmo tempo, chama-se bem; e o supremo
recurso no perigo mais extremo, o que há de mais raro e de mais difícil,
chama-se sagrado.»
[NIETZSCHE, 1985: 65]
É acumulando montanhas que o discípulo do
conhecimento deve aprender a construir.
Transportar montanhas é para o espírito pouca coisa: já o sabíeis?
[NIETZSCHE, 1985: 115]
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falava
Zaratustra. Lisboa-. Guimarães Editores,
1985, pp. 376.
terça-feira, 4 de dezembro de 2018
Montanhas da/na mente
Na próxima semana, no âmbito da comemoração do Dia Internacional
das Montanhas, vamos abordar, na sede da Federação de Campismo e Montanhismo de
Portugal (Lisboa) e na Biblioteca Municipal de Lagoa (Lagoa – Algarve), um conjunto de
temáticas em torno do pensar/sentir a montanha. Nesse contexto, deixamos aqui
uma citação extraída do livro Mountains
of the Mind – A History of a Fascination, de Robert MacFarlane (Granta
Books, 2003), que constitui uma das inspiradoras referências bibliográficas a
que iremos recorrer.
© da/na Net
As late as 1791 William Gilpin noted that ‘the generality of people’
found wilderness dislikeable. ‘There are few’, he continued, ‘who do not prefer
the busy scenes of cultivation to the greatest of nature’s rough productions.’
Mountains nature’s roughest productions, were not only agriculturally
intractable, they were also aesthetically repellent : it was felt that
their irregular and gargantuan outlines upset the natural spirit-level of the
mind. The politer inhabitants of the seventeenth century referred to mountains
disapprovingly as ‘deserts’ ; they were also castigated as ‘boils’ on the
earth’s complexion, ‘warts’, ‘wens’, ‘excrescences’ and even, with their labial
ridges and vaginal valleys, ‘Nature’s pudenda’.
Moreover, mountains were dangerous places to be. It was believed that
avalanches could be triggered by stimuli as light as a cough, the foot of a
beetle, or the brush of a bird’s wing as it swooped low across a loaded
snow-slope. You might fall between the blue jaws of a crevasse, to be regurgitated
years later by the glacier, pulped and rigid. Or you might encounter a god,
demi-god or monster angry at having their territory trespassed upon – for mountains
were conventionally the habitat of the supernatural and the hostile. In his
famous Travels,
John Manderville described the tribe of Assassins who lived high among the
peaks of the Elbruz range, presided over by the mysterious ‘Old Man of the
Mountain’. In Thomas’s More’s Utopia
the Zapoletes – a ‘hideous, savage and fierce’ race – are reputed to dwell ‘in
the high mountains’. True, mountains had in the past provided refuge for
beleaguered peoples – it was to the mountains that Lot and his daughters fled
when they were driven out of Zoar, for instance – but for the most part they
were a form of landscape to be avoided. Go around mountains by all means, it was
thought, along their flanks or between them if absolutely necessary – as many
merchants, soldiers, pilgrims and missionaries had to – but certainly not up
them.
During the second half of the 1700, however, people started for the
first time to travel to mountains out of a spirit other than necessity, and a
coherent sense began to develop of the splendour of moutainous landscape. The
summit of Mont Blanc was reached in 1786, and mountaineering proper came into
existence in the middle of the 1800s, induced by a commitment to science (in
the sport’s adolescence, no respectable mountaineer would scale a peak without
at the very least boiling a thermometer on the summit) but very definitely born
of beauty. The complex aesthetics of ice, sunlight, rock, height, angles and
air – what John Ruskin called the ‘endless perspicuity of space ; the
unfatigued veracity of eternal light’ – were to the later nineteenth-century
mind unquestionably marvellous. Mountains began to exert a considerable and
often fatal power of attraction on the human mind. ‘The effect of this strange
Matterhorn upon the imagination is indeed so great,’ Ruskin could claim proudly
of his favourite mountain in 1862, ‘that even the gravest philosophers cannot
resist it’. Three years later the Matterhorn was climbed for the first time ;
four of the successful summitteers fell to their deaths during the descent.
(…) Today the emotions and attitudes which impelled the early
mountaineers still proper in the Western imagination : indeed if anything
they are more unshiftably ensconced there. Mountain-worship is a given to
million of people. The vertical, the ferocious, the icy – all these are now automatically
venerated forms of landscape, images of wich permeate an urbanized Western
culture increasingly hungry for even second-hand experiences of wildness and
wilderness. Mountain-going has been one of the fastest growing leisure
activities of the past twenty years. An estimated 10 million Americans go
mountaineering annually, and 50 million go hiking. Some 4 million people in
Britain consider themselves to be hill-walkers of one stripe or another.
(…) Over the course of three centuries, therefore, a tremendous
revolution of perception occurred in the West concerning mountains. (…) So
drastic was this revolution that to contemplate it now is to be reminded of a
truth about landscapes ; that our responses to them are for the most part
culturally devised. That is to say, when we look at a landscape, we do not see
what is there, but largely what we think is there. We attribute qualities to a
landscape which it does not intrinsically posses – savageness, for example, or
bleakness – and we value it accordingly. We read landscapes, in other words, we
interpret their forms in the light of our own experience and memory, and that
of our shared cultural memory.
(…) What we call a mountain is thus in fact a collaboration of the
physical forms of the world with the imagination of humans – a mountain of the
mind.
[MACFARLANE, 2003 : 14-19]
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MACFARLANE, Robert. Mountains of the Mind – A History of a Fascination. Londres :
Granta Books, 2003, pp. 310. ISBN
quinta-feira, 29 de novembro de 2018
Mountaincraft
Fundamentally, a leader must have ability. Ability has two
components: knowledge and skill. Knowledge
is understanding a task. Skill is
proficiency at performing a task. The key to developing knowledge and skill is
repeated exposure. (…) In order to generalize learning to a variety of complex
situations, you as a leader need to have a varied and extensive base of
exposure to related situations. It is this experience that allows you to
develop ability.
In Mountaincraft and
Leadership, the official handbook of the Mountain Leader Training Boards of
the United Kingdom, author Eric Langmuir is quite clear regarding the first
order of business for aspiring leaders: “The chances of becoming an effective
party leader are greatly reduced unless a considerable amount of time is spent
on acquiring experience.” His is an honest and accurate statement.
[KOSSEFF, 2003: 37]
DR ©
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
KOSSEFF, Alex. AMC
Guide to Outdoor Leadership. Appalachian Mountain Club Books, 2003, pp.
282. ISBN 1-929173-21-0
quarta-feira, 28 de novembro de 2018
Mountain Skills
DR ©
A UIAA – a Federação Internacional de Montanhismo e Escalada – está
empenhada na formação e no treino em Desportos de Montanha, com vista designadamente ao incremento
de conhecimentos técnicos, à melhoria de competências/desempenho e
à redução do risco inerente à sua prática. É nesse
contexto que a Comissão de Montanhismo, da qual tenho o grato prazer de ser
membro efectivo, tem vindo a desenvolver um conjunto de iniciativas formativas
de que destacamos a publicação, em 2015, de UIAA Alpine Skills Summer.
Este manual, produzido sob os auspícios da Fundação Petzl, tem vindo a ter uma grande aceitação a nível global, está traduzido em cinco idiomas e é passível de ser adquirido
em versão digital ou em papel. Para marcar o lançamento da versão digital deste
importante manual técnico, a UIAA disponibiliza agora, on-line e gratuitamente, uma série de artigos com informações úteis com enfoque nos skills.
terça-feira, 27 de novembro de 2018
Errar é bom
Por tentativa e erro...
«Primeiro estranha-se, depois entranha-se.»
Fernando Pessoa (1929)
DR © algures (Serra da Estrela, 24/11/2018)
O treino intensivo assenta num paradoxo: no esforço por
determinados objectivos – permitindo-nos cometer erros e, ao parecermos
estúpidos, tornarmo-nos inteligentes. Ou seja, experiências em que somos
obrigados a abrandar o ritmo, a fazer erros e a corrigi-los – é como se
estivéssemos a escalar uma encosta coberta de gelo, escorregando e tropeçando à
medida que avançamos – acabando por nos tornar mais ligeiros e graciosos sem
que disso nos apercebamos.
«Temos tendência a pretender um desempenho sem esforço mas, de
facto, é uma péssima forma de aprendizagem», afirma Robert Bjork*, (…) o
director de psicologia da UCLA, [que] passou a maior parte da vida a fazer investigação sobre questões
da memória e aprendizagem.
(…) «Coisas que parecem obstáculos tornam-se desejáveis a longo
prazo» diz Bjork. «Um verdadeiro confronto, ainda que de escassos segundos, é
de longe mais útil do que centenas de observações.»
(…) «Temos tendência para considerar a nossa memória como um
gravador, mas não é verdade», diz ele. «É uma estrutura viva, uma armação de
proporção quase infinita. Quanto mais impulsos gerarmos, enfrentando e
ultrapassando as dificuldades, mais armações construímos. Quanto mais armações
construímos, mais rapidamente aprendemos.»
Quando treinamos intensamente, as regras normais do mundo são
suspensas. Usamos o tempo de forma mais eficiente. Os nossos pequenos esforços
produzem resultados maiores e mais duradouros. Conseguimos multiplicar as
nossas forças e transformar o fracasso em perícia. O truque consiste em escolher
um objectivo um pouco além das nossas capacidades para dirigir o esforço.
Insistir às cegas não ajuda. Alcançar sim.
«Trata-se apenas de encontrar o ponto-chave», diz Bjork. «Existe um
intervalo optimizado entre aquilo que se conhece e aquilo que estamos a fazer.
Quando encontrarmos esse ponto-chave a aprendizagem dispara.» O treino
intensivo é um conceito estranho por duas razões. A primeira é que vai contra a
nossa intuição acerca do talento**. A nossa intuição diz-nos que o treino está
para o talento como a pedra de amolar está para a faca: é vital mas inútil sem
uma lâmina sólida ou aquilo a que chamamos habilidade natural. O treino
intensivo desvela uma possibilidade intrigante: a de que o treino pode ser mais
importante que a dita habilidade natural.
A segunda razão pela qual o treino intensivo nos parece um conceito
estranho é que envolve eventos que normalmente tentamos evitar – nomeadamente os
erros –, transformando-os em destreza. Para percebermos como funciona o treino
intensivo é necessário ter em consideração a inesperada mas crucial importância
dos erros no processo de aprendizagem.
[COYLE, 2009: 28-30]
NOTAS
*Robert Allen Bjork (1939-) é Distinguished Professor of Psychology
na Universidade da Califórnia (UCLA), em Los Angeles, sendo a sua área de investigação
sobre aprendizagem humana, a memória e as suas implicações no treino.
**A palavra talento pode ser vaga e repleta de
significados traiçoeiros acerca do potencial, sobretudo quando se refere aos
jovens – as pesquisas revelam que o prodígio não é um indicador fiável para o
sucesso a longo prazo. No interesse da clarificação, definiremos talento no seu sentido mais restrito: a
aptidão de destrezas repetitivas que não dependem do tamanho físico (…). [COYLE, 2009: 21]
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
COYLE, Daniel. O
Código do Talento. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2009, pp. 256.
ISBN 978-972-20-3790-7
segunda-feira, 26 de novembro de 2018
Estágio de Montanha
Rúben Jordão © Pousada da Juventude das Penhas da Saúde (Serra da Estrela, 23/11/2018)
O Centro de Formação da Federação de Campismo e Montanhismo de
Portugal/Escola Nacional de Montanhismo (FCMP/ENM) realizou, no passado
fim-de-semana (dias 23 a 25 de Novembro), um estágio sobre “Gestão de Grupos em Actividades de Montanha”.
Uma oportunidade única de rever velhos amigos e de partilha de conhecimentos e
de experiências entre Quadros Técnicos da FCMP/ENM, com base no estado da arte
dos Cursos de Treinadores de Montanha e de Pedestrianismo – Graus I.
É fundamental que os Treinadores adoptem as metodologias e técnicas
padronizadas, que são ministradas nos cursos, e que essas opções sejam alvo de
reflexões críticas com vista ao seu possível e desejável melhoramento. A actualização
de conhecimentos e o contínuo desenvolvimento de competências são essenciais
num modelo de ensino-aprendizagem que se pretende de elevado nível e desempenho.
Foi nesse contexto que as excelentes condições do terreno de jogo da Serra da
Estrela – com neve, denso nevoeiro, vento, frio e pluviosidade a partir do meio
da tarde de sábado – permitiram testar e desenvolver um conjunto de importantes
exercícios.
Na noite de sexta-feira decorreu a apresentação teórica de um workshop sobre “Gestão e Liderança de Grupos em Actividades de Montanha com base na
Paisagem”. A componente prática desse workshop
realizou-se no dia seguinte, em contexto efectivo, no terreno. O programa de
domingo foi alterado, com base nas previsões meteorológicas, mas ambos os workshops programados foram realizados e
os objectivos concretizados: “Planeamento
de Actividades de Montanha com apoio de Plataformas e Aplicações Informáticas:
teoria e aplicações práticas” e “Gestão
e Liderança de Grupos em Actividades de Escalada: prática”. Neste último, foram
escalpelizadas manobras técnicas em quatro estações/ateliês.
DR © algures (Serra da Estrela, 24/11/2018)
DR © algures (Serra da Estrela, 24/11/2018)
António Ribeiro © algures (Serra da Estrela, 24/11/2018)
António Ribeiro © algures (Serra da Estrela, 24/11/2018)
quarta-feira, 21 de novembro de 2018
Tertúlia da Montanha
Na sequência da comemoração do Dia Internacional das Montanhas, estarei na Biblioteca Municipal de Lagoa, no
dia 14 de Dezembro, para participar, juntamente com a Dra. Maria Luísa
Francisco, numa tertúlia sob o tema “O Sentimento da Montanha: do imanente ao
transcendente”.
terça-feira, 20 de novembro de 2018
Pensar (como um)a Montanha
Pensar (como um)a Montanha,
no Dia Internacional das Montanhas
O modo como os seres humanos se têm relacionado com a Natureza, em
geral, e com a Montanha, em particular,
não tem sido o mesmo ao longo da história. Na verdade, verificaram-se
alterações profundas das concepções, paradigmas e formas de ver e
sentir o meio montanhoso. A data em que se celebra o Dia Internacional das Montanhas (11 de
Dezembro) constitui uma ocasião privilegiada para abordar as éticas e estéticas
da Terra que conduziram a novas formas de fazer, estar e ser (n)a Montanha, com importantes aplicações teóricas e práticas no trabalho
desenvolvido pelos Treinadores na área dos Desportos/Actividades de Montanha. Tendo em conta a excepcionalidade do dia, esta Palestra da Montanha contará com
uma pausa para café na qual se irá comemorar de forma especial essa importante
data dedicada à Montanha.
Conteúdos
programáticos:
Enquadramento
· Montanhas,
Montanhismo e Desportos de Montanha
· O Dia Internacional
da Montanha
· Fazer, Estar, Ser
Ética da Terra
· Alguns conceitos:
antropocentrismo, sencientismo, biocentrismo e ecocentrismo
· Ética Ambiental e
Montanhismo: pré-romantismo, romantismo, transcendentalismo, ética da Terra e
ecologia profunda
Estética da Terra
· Leitura e
interpretação da paisagem: Montanha
· Noções e abordagens
da paisagem: estética, científica e técnica
· Aplicações
práticas: abordagens da paisagem e necessidades de Maslow
Pensar como uma
Montanha
· O Terreno de Jogo –
abordagem técnica: alguns exemplos
· Análise da paisagem
– utilização pedagógica: alguns exemplos
· Ser a paisagem –
auto-realização: alguns exemplos
· Uma “visão”
holística da Montanha