quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Pensar como uma Montanha



John Muir está na aurora dessas novas formas de pensar que são traduzidas de forma cabal em A Sand County Almanac. Esta obra, publicada pela primeira vez em 1949, só viria a revelar o seu enorme alcance com a expansão, a partir dos anos 60 do século XX, da consciência ecológica moderna nos Estados Unidos e um pouco por todo o mundo. Este livro é hoje talvez o mais discutido clássico sobre natureza e ecologia, tal como o pilar de uma muito recente ética da Terra, ética ambiental ou ética ecológica. 
Para José Carlos Costa Marques, o editor da obra em português (Pensar como uma Montanha, 2008), é surpreendente que neste livro, de mais de 200 páginas na edição original, o mais conhecido, citado e debatido se resuma quase ao último capítulo (The Land Ethic), somente cerca da nona parte da totalidade da obra. E neste, sobretudo a sua última secção (The Outlook). Nessas duas páginas e meia destaca-se um parágrafo notável, o sexto dessa secção: oito linhas! E destas, sobretudo, as três últimas: A thing is right when it tends to preserve the integrity, stability, and beauty of the biotic community. It is wrong when it tends otherwise.
A leitura integral de Pensar como uma Montanha (A Sand County Almanac) é imprescindível para entender o pensamento de Aldo Leopold, tendo em conta que a mesma possui uma estrutura que funciona de forma gradativa, como se o leitor fosse levado pela mão numa lição progressiva de educação ambiental, até ao culminar, no final da obra, nos elevados conceitos da ética da Terra. E, nesse contexto, não será de admirar o que o filósofo Viriato Soromenho-Marques afirme no prefácio da mesma: “O que nós devemos a Aldo Leopold é uma radical mudança de olhar sobre as relações entre o Homem e a Natureza.” Retomando a inspiração de outras duas gradas figuras do pensamento norte-americano do século XIX, os transcendentalistas Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau, “Leopold oferece aos seus leitores uma visão subtil e delicada da frágil teia dos equilíbrios naturais, criticando, de uma forma pedagógica e sem arrogância moral ou científica, o modo desastrado e destruidor de que se revestem a maioria das intervenções humanas sobre os ecossistemas, em nome de um duvidoso conceito de “progresso”. Leopold soube ver de modo mais profundo do que a esmagadora maioria dos filósofos do seu tempo: vislumbrou e definiu uma Ética da Terra (Land Ethics).

Na ética da Terra de Leopold está incluso praticamente tudo aquilo que hoje estamos a (re)aprender quando queremos transformar o conceito de desenvolvimento sustentável em algo realmente efectivo: o respeito pelos valores intrínsecos dos ecossistemas; a capacidade de apreciação do sagrado e sublime que se manifesta na natureza (Soromenho-Marques in LEOPOLD, 2008). Ao fim ao cabo, a “redescoberta de um paradigma muito antigo, o da sacralidade de todas as formas de vida, da nossa terra viva, de nós próprios e dos outros”(HARTMANN, 2002); a que acrescentamos nós a componente abiótica muitas vezes esquecida ou subvalorizada, por certos autores, nestas renovadas concepções do mundo!




Nicholas Roerich © Himalayas (1921)

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Of the Human-Nature

«Theodore Roszak, in his book The Voice of the Earth, has argued that ecology and psychology need each other and that “repression of the ecological unconscious is the deepest root of the collusive madness in industrial society; open access to the ecological unconscious is the path to sanity”. Roszak points out that Jung’s idea of the “collective unconscious” originally included prehuman animal and biological archetypes, but later came to concentrate primarly on panhuman religious symbols. He proposes that we take the original meaning and call it the “ecological unconscious” as “the living record of cosmic evolution”. This may turn out to be a terminology that has a wide appeal, although I personally prefer Robert Jay Lifton’s idea of a “species self”. Calling some image or understanding “unconscious”, or even more, reifying it as “the unconscious”, may function to keep it unconscious. After all, we are trying to foster ecological consciousness, or “ecological conscience”, to use Aldo Leopold’s term.»

Several different diagnostic metaphors have been proposed to explain the ecopsychologically disastrous split – the pathological alienation – between human consciousness and the rest of the biosphere. It’s time to rewild and healing the mind or…?



Bibliographical reference
METZNER, Ralph. The Psychopathology of the Human-NatureRelationship in ROSZAK, Theodore, GOMES, Mary E. & KANNER, Allen D. Ecopsychology – Restoring the Earth, Healing the Mind. San Francisco: Sierra Club, 1995, p. 55-67.

sábado, 22 de outubro de 2016

Vivência outonal


Agora que estamos a entrar na estação introspectiva do Outono boreal será uma boa altura da roda do ano para apreciar os cambiantes das cores e a intensidade dos odores campestres, num renovado contacto com a natureza. Esta será igualmente uma excelente ocasião para nos dedicarmos à leitura e, nesse pressuposto, deixo aqui uma sugestão… diremos outonal: Coming Home to the Pliocene, uma obra incontornável de Paul Shepard (Shearwater Book, 1998). As especificidades da época não devem, contudo, constituir uma escusa para um estar preponderantemente sedentário, bem pelo contrário. No campo e/ou na cidade, a caminhada continua. 

Pedro Cuiça © Sapadores (Lisboa - 21/10/2016)

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Wanderlust

I am leaving this harbor
Giving urban a farewell
Its habitants seem too keen on god
I cannot stomach their rights and wrongs
I have lost my origin
And I don't want to find it again
Whether sailing into nature's laws
And be held by ocean's paws
Wanderlust, relentlessly craving
Wanderlust, peel off the layers
Until we get to the core
Did I imagine it would be like this
Was it something like this I wished for
Or will I want more
Lust for comfort
Suffocates the soul
Relentless restlessness
Liberates me (sets me free)
I feel at home
Whenever the unknown surrounds me
I receive its embrace
Aboard my floating house
Wanderlust, relentlessly craving
Wanderlust, peel off the layers
Until we get to the core
Did I imagine it would be like this
Was it something like this I wished for
Or will I want more
Wanderlust, from island to island
Wanderlust, united in movement
Wonderful, I'm joined with you
Wanderlust, wanderland
Can you spot a pattern
Can you spot a pattern
Can you


Por via das dúvidas

Face a diversas manifestações de alguma surpresa e, ademais, de interpretações notoriamente equivocadas acerca da apresentação do blogue Pedestris, no que concerne à «Arte de Caminhar numa perspectiva holotrópica e ecosófica», consideramos que será oportuno esclarecer o significado de “holotrópico”: «Esta palavra compósita significa literalmente “orientado para a totalidade” ou “movendo-se em direcção à totalidade” (do grego holos = todo e trepein = mover-se para ou na direcção de algo). (...) Ele <o termo> sugere que, no nosso estado quotidiano de consciência, apenas nos identificamos com uma pequena parte do que realmente somos. Nos estados holotrópicos, podemos transcender as fronteiras limitadas do ego corporal e reclamar a nossa identidade completa.» [GROF, 2007: 18] No que concerne à ecosofia o seu significado ou significados têm sido desvelados em diversos posts sobre essa temática...

Atanislav Grof


Referência bibliográfica
Stanislav Grof in A Psicologia do Futuro – Lições da Investigação Moderna sobre a Consciência (Porto: Via Óptima, 2007; ISBN 9789729360336)

Arte de Andar

Esta oficina de trabalho (workshop), A Arte de Andar – Ecosofia e Eco-espiritualidade, organizada pel'O Círculo do Entre-Ser – Associação Filosófica e Ética, centra-se no(s) encantamento(s) do acto de andar, numa perspectiva ecosófica e eco-espiritual desenvolvida sob três vertentes: Ser/Sentir, Demandar e Des(en)cobrir a Natureza. Os trabalhos irão decorrer em dois tempos e locais distintos: uma abordagem teórica (9 de Novembro, das 18.30 às 20.00), n’O Coração do Mundo, e uma componente prática (12 de Novembro, das 10.00 às 13.00), no Parque Florestal de Monsanto.


terça-feira, 18 de outubro de 2016

Take a Walk


Take a Walk on the slow side


Outros tipos de riqueza, certamente mais intrínsecos do que utilitários... 

terça-feira, 11 de outubro de 2016

It's (the) Time


«Não temos outra alternativa senão reinventar a mobilidade [] grande parte da Índia ainda anda de autocarro, a pé ou de bicicleta – em muitas cidades cerca de 20% da população anda de bicicleta. Fazemo-lo porque somos pobres. Agora o desafio é reinventar o planeamento urbano, para podermos fazer isso quando ficarmos ricos.»
Sunita Narain, diretora-geral do Centro para a Ciência e o Ambiente, 2013 [KLEIN, 2016: 124]

O facto de as empresas de combustíveis fósseis terem sido autorizadas a dedicar-se à extração não convencional de combustíveis fósseis na última década não foi algo inevitável, mas sim o resultado de decisões regulamentares muito deliberadas – decisões para conceder a essas empresas licenças para novas e maciças areias betuminosas e minas de carvão; para abrir vastas faixas dos Estados Unidos ao fracking de gás natural, virtualmente isento de regulação e supervisão; para abrir novas extensões de águas territoriais e levantar moratórias existentes sobre perfuração offshore. Estas decisões são uma grande parte do que nos está a conduzir a níveis desastrosos de aquecimento planetário. Estas decisões são, por sua vez, o produto de lóbi intenso da parte da indústria de combustíveis fósseis, motivadas pelo motor mais potente de todos: a vontade de sobreviver [das empresas, entenda-se]. [KLEIN, 2016: 183]

«A luta por justiça climática aqui nos Estados Unidos e em todo o mundo não é apenas uma luta contra a [maior] crise ecológica de todos os tempos», explica Miya Yoshitani, diretora executiva da Asian Pacific Environmental Network (APEN), sediada em Oakland. «É a luta por uma nova economia, um novo sistema de energia, uma nova democracia, uma nova relação com o planeta e uns com os outros, por terra, água e soberania alimentar, pelos direitos indígenas, pelos direitos humanos e pela dignidade para todas as pessoas. Quando a justiça climática ganhar, conquistaremos o mundo que queremos. Não podemos ficar fora disto, não porque tenhamos muito a perder, mas porque temos muito a ganhar [] Estamos unidos nesta batalha, não só para a redução nas partes por milhão de CO2 mas para transformar as nossas economias e reconstruir um mundo que queremos hoje.» [KLEIN, 2016: 195-196]

O poder deste amor feroz é aquilo que as empresas que exploram os recursos naturais e respetivos defensores no governo inevitavelmente subestimam, precisamente porque não há nenhum dinheiro no mundo que o possa extinguir. Quando aquilo por que se luta é uma identidade, uma cultura, um lugar querido que as pessoas estão determinadas a deixar aos seus netos, e que os seus antepassados eventualmente pagaram com grande sacrifício, não há nada que as empresas possam oferecer como moeda de troca. Nenhuma promessa de segurança as irá acalmar; nenhum suborno será suficientemente grande. E embora este tipo de ligação a um lugar seja certamente mais forte nas comunidades indígenas, onde os laços com a terra remontam a milhares de anos, na realidade é a característica que define Blockadia. [KLEIN, 2016: 414]



Fonte bibliográfica:
KLEIN, Naomi. Tudo Pode Mudar – Capitalismo vs. Clima. Barcarena: Editorial Presença, 2016, pp. 654.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Take a Walk

A certain kind of Nature by Ralph Waldo Emerson...


terça-feira, 4 de outubro de 2016

It depends on

Alice: Would you tell me, please, which way I ought to go from here?
The Cat: That depends a good deal on where you want go get to.
Lewis Carroll, Alice in Wonderland (1865)



segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O Viandante

«Todo o português é um penitente e um homo viator. Por isso também ele é, de todo sempre, vocacionado para os grandes ermos, onde se perfazem essas penitências. Como as vividas e cantadas por Camilo n’A Bruxa do Monte Córdova, O Santo da Montanha, A Doida do Candal; ou a vivida por ele próprio como O Penitente de S. Miguel de Seide, cantado por Teixeira de Pascoaes, celebrante da saudade.
Vocacionado para a penitência, como eremita ou como peregrino (outra forma de penitência) nas grandes viagens que o levam ao cabo do mundo. Sempre procurando, através de dores e sofrimentos sem conta, a pátria original, ou esse paraíso perdido. Em viagens no mundo exterior ou no mundo interior, sempre através e vencendo um Mar Tenebroso: na alma ou na terra, para, através desse mar de escuridão, como purgatório, atingir a própria santificação.
Por isso também, a essência da saudade vivida nesta «praia purgatória» de reminiscência vicentina, é toda dinâmica nessa força que conduz, impulsiva, simultaneamente de expectação, procura e transcensão, ou sublimação. Esse, o sentido de sua essência. Entre terra e terra, ou mais perfeitamente, entre terra e céu, como a cantou Frei Agostinho da Cruz: «Saudade do céu, não da terra».
Assim também, em toda a saudade, como em todo o existir, sentir, pensar e agir português, estão à obra conjuntamente duas forças que mais conduziram esse ser português; e que tão visíveis são na sua poesia, mística, filosofia, teologia e escatologia: o platonismo e o augustianismo, como saudade de Deus. Ou volver num caminho antes já percorrido; sempre como regresso, depois do exílio, à pátria primeira. Teixeira de Pascoaes o cantou supremamente no Regresso ao Paraíso.»
Dalila Pereira da Costa: Entre Desengano e Esperança; Porto: Lello Editores, 1996, p. 10. ISBN 972-48-1689-3

Pedro Cuiça © Mont'Santo (Lisboa - 2/10/2016)

Panteísmo, panenteísmo, teísmo, deísmo ou nem por isso?!

sábado, 1 de outubro de 2016