sexta-feira, 14 de abril de 2023

Pelos bosques

 



Quando as crianças da aldeia o visitavam na sua cabana no lago Walden, [Henry DavidThoreau levava-as em longos passeios pelos bosques. Quando assobiava estranhos sons, os animais apareciam um a um – a marmota espreitava de baixo do mato, os esquilos corriam para ele e os pássaros pousavam-lhe no ombro.

A natureza, dizia Hawthorne, «parece adotá-lo como seu filho especial», pois os animais e as plantas comunicavam com ele. Havia uma ligação que ninguém conseguia explicar. Os ratos corriam pelos braços de Thoreau, os corvos empoleiravam-se nele, as cobras enroscavam-se-lhe nas pernas e ele encontrava sempre as primeiras flores da primavera mais escondidas. A natureza falava-lhe e Thoreau falava com ela. Quando plantou uma horta de feijões, perguntou: «Que aprenderei com os feijões e os feijões comigo?» A alegria da sua vida diária era «apanhar um pouco do pó das estrelas», dizia, ou uma «semente de um arco-íris que agarrei».

Durante essa época no lago Walden, Thoreau olhava a natureza de perto. Tomava banho de manhã e depois ficava sentado ao sol. Passeava pelos bosques, ou ficava silenciosamente agachado numa clareira, à espera de que os animais se exibissem para ele. Observava o tempo que fazia e chamava a si próprio um «inspetot autonomeado das tempestades de neve e de chuva».

(WULF, 2015: 339-349)

 



LIVRO:

WULF, Andrea. 2015. A Invenção da Natureza – As aventuras de Alexander von Humboldt, o herói esquecido da ciência. Lisboa: Temas & Debates/Círculo de Leitores.




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