domingo, 15 de fevereiro de 2015

A natureza fala

Ó Pedro Cuiça - Grand Canyon (Arizona - USA)

«(…) entre muitas tribos que em tempos foram indígenas da América do Norte, um rapaz só podia adquirir a compreensão necessária para entrar na sociedade dos homens adultos empreendendo uma demanda solitária de uma visão – só tornando-se vulnerável às forças selvagens da terra e, se necessário, implorando uma visão a essas forças. A “Deambulação” iniciática empreendida pelos aborígenes australianos é, uma vez mais, apenas um mais-do-que-humano em busca de ensinamentos que devem vitalizar e sustentar a comunidade humana.
Nas culturas indígenas orais, a própria natureza é articulada; a natureza fala. A voz humana numa cultura oral compartilha sempre, em alguma medida, as vozes dos lobos, do vento, das ondas – ou seja, compartilha o discurso envolvente de uma terra animada. Não há qualquer elemento da paisagem que seja definitivamente desprovido de ressonância e força expressiva: qualquer movimento pode ser um gesto, qualquer som pode ser uma voz, um enunciado com sentido.»

David ABRAM: A Magia do Sensível – Percepção e Linguagem num mundo mais do que humano. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007, p.120

Ó Pedro Cuiça - Grand Canyon (Arizona - USA)

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