terça-feira, 30 de julho de 2019

ReaVIVAR Montserrat


Montserrat – Santos caminhos

Montserrat eleva-se aos céus constituindo a “montanha” mais emblemática da Catalunha. Essa “montanha santuário”, surpreendente combinação de agulhas altivas e profundos vales encaixados, foi em tempos um local de culto e admiração. Aí, cansam-se as pernas e descansa-se a alma.


Bruno Carreras © Mosteiro de Montserrat

O Parc Natural de la Muntanya de Montserrat situa-se a cerca de 45 quilómetros a NW de Barcelona, na confluência das comarcas de Baix Llobregat, Bages e Anoia. A proximidade de Barcelona e as diversas vias de comunicação permitem o fácil acesso a esse maciço onde o relevo peculiar, preenchido pelo verde da vegetação, convida o visitante a percorrer os seus recantos mais esconsos. A Estació FFCC Aeri de Montserrat, situada junto do rio Llobregat, é um excelente ponto de partida para o excursionista que pretenda percorrer essa serrania catalã.

PONTO DE PARTIDA
Face ao Aeri de Montserrat (135 m), a vertente setentrional da serra estende-se altiva, segundo WNW-ESSE, sobre o Llobregat que corre encaixado a mais de mil metros abaixo do cimo da serra. Essa espectacular vertente de paredes de grande verticalidade (com mais de 300 m de desnível) e que atinge a sua maior altitude no Pic de San Jeróni (1236 m) será vencida através do teleférico que conduz ao Monestir de Montserrat (700 m).
Aqueles que apreciam o património arquitectónico ou a arte sacra não poderão deixar de visitar esse mosteiro beneditino, centro de peregrinação erigido, a partir do século XI, sobre a Ermida de Santa Maria (século VIII). A ermida de San Acisclo também do século oitavo, que se encontra nos jardins do mosteiro, é um marco do início da cristandade em Montserrat. A localização privilegiada, as formas abruptas e a tranquilidade atraíram inúmeros cristãos para a vida de reclusão, oração e penitência.
Deixando para trás o mais prestigiado santuário da Catalunha passa-se pela Fuente del Portal, aproveitando para encher os cantis, e toma-se a escadaria do Pas des Francesos. Os sinos do mosteiro ressoam, pontuando a sacralidade do local e confundindo-se no seu ritmar com a cadência da marcha. Ao atingir a Placeta de Sta. Anna (900 m), já no topo do estreito vale que se subiu, deve seguir-se pelo trilho, voltado a norte, que conduz à Ermida de la Santa Creu (900 m). Por entre densa vegetação, o trilho terroso serpenteia ao longo de vertente suave até essa pequenina ermida. O peregrino não deixará de descer até à Ermida de Sant Dimes, no entanto, será conveniente prosseguir para oeste até Pla de la Trinidad, pois o percurso que nos espera ainda é longo. A vista que se estende para norte, sobre o Llobregat e Monistrol de Montserrat, acompanha o caminhante até à Ermida de la Trinidad (965 m) que se encontra bastante degradada. Daí, até à Ermida de Sant Benet (situada mais a sul), a vereda passa nas faldas de grandes monólitos conglomeráticos: Quarta de Trinidad (1033 m), Carota (1040 m), Pebrot (1040 m), Momieta (1060 m), Molina (1121 m).

Bruno Carreras © Basílica de Montserrat

ESCOLA DE ESCALADORES
A Ermida de Sant Benet (970 m) é muito frequentada por escaladores constituindo um local bastante aprazível para pernoitar e “campo base” para quem pretenda trepar as paredes que aí se encontram. Montserrat foi a grande escola de alpinismo catalão: em 1922, Lluís Estasén e os seus companheiros iniciaram essa prática nos monólitos montserratinos.
O trilho continua, por vezes imperceptível, até atingir o Camí Antic de Sant Jeroni (a cerca de 935 m de altitude). Esse caminho segue o vale densamente arborizado paralelamente ao Camí Nou de Sant Jeroni ligando-se a este junto da base do Serrat del Patriarca (1050 m). Este último é bastante frequentado pelos visitantes, pelo que, percorrer o Camí Antic será mais gratificante. Continuando a marcha, chega-se à Capella de Sant Jeroni (1145 m) onde será conveniente descansar um pouco para retemperar forças. Daí, poder-se-á ir até ao ponto culminante da serra, o Cim de Sant Jeroni (1236 m), para apreciar as amplas vistas que se estendem em seu redor. No entanto, o percurso segue, para sul, pelo Camí dels Francesos, assinalado a cor-de-laranja, devendo abandonar-se o Camí de Sant Jeroni na curva onde o piso se encontra cimentado (1165 m). Chegados ao Coll de l’Ajaguda (820 m) vira-se à direita, para norte, seguindo pelo Camí del Torrent del Migdia, assinalado a branco, que sobe o empinado Canal del Migdia. Esse profundo sulco divide o maciço em duas áreas distintas: Montserrat Ocidental ou de Ecos e Montserrat Oriental ou de Sant Jeroni. Nesse troço do percurso irão surgir diversos trilhos mas o caminhante deverá seguir sempre em frente até ao Coll de Migdia (1035 m), lá em cima entre os Ecos e as Talaies, sob pena de ir dar a paragens assaz difíceis. O caminho de pé-posto até ao colo é de fácil progressão, no entanto, pode dar-se o caso de se perder devido à exuberância da vegetação. Caso se perca, será recomendável retroceder pelo caminho percorrido. Perder-se poderá proporcionar o conhecimento do “Montserrat profundo”, ficar rodeado por inóspita vegetação e/ou ter de ‘rapelar’ por algum canal, se conhecer as técnicas de escalada e ter o material apropriado.

Bruno Carreras © Ermida de Santa Magdalena

PALÁCIOS E ALBERGUES
Do Coll de Migdia desce-se, para a vertente setentrional da serra, pelo Camí de la Font del Llum até ao Monestir de Santa Cecília (680 m). Junto desse mosteiro encontra-se o Refugi Bartolomeu Puiggròs onde se poderá pernoitar. Este, com capacidade para 45 pessoas, encontra-se aberto aos fins-de-semana, feriados e durante todo o Verão.
Do Mosteiro de Santa Cecília segue-se pela estrada de alcatrão (FP-1103) e, após ultrapassar o túnel rodoviário, continua-se pela Baixada dels Matxos. Passado o Monestir de Sant Benet (525 m) percorre-se a Drecera de l’Angel até à estrada alcatroada (BP-1121) e, daí, até Monistrol de Montserrat (180 m). Esta pequena e típica vila, situada nas faldas da serra, é o local ideal para o caminhante repousar antes do termino do percurso. Será de destacar, como pontos de interesse, a ponte gótica sobre o Llobregat, o Palau dels Priors de Montserrat, o aqueduto de Cal Pla, a Plaça del Bo e as diversas casas senhoriais da povoação.
De Monistrol de Montserrat até à Estació FFCC Aeri de Montserrat o percurso processa-se ao longo da Carretera 14411 de Manresa a Bellver de Cerdanya. A escarpada vertente setentrional irá acompanhar o excursionista ficando gravada na lembrança de quem palmilhou os solitários espaços serranos.

Pedro Cuiça · revista Forum Ambiente – Maio de 1997, pp. 64-66


Bloco de notas
Acessos: de Barcelona, segue-se pela Autopista A-7, toma-se a Autovia II até Terrasa e, daí, a Carretera 14411 que liga a Manresa passando pela Estació FFCC Aeri de Montserrat e Monistrol de Montserrat (note-se que existem várias opções).
Extensão: 16 km
Desníveis acumulados: + 715 m; - 1280 m
Duração média: cerca de 5 horas (o horário indicado depende do grau de treino e do ritmo de marcha de cada um)
Dificuldade: exige-se um certo treino e alguma experiência montanheira
Época aconselhada: Primavera-Outono. Durante o Verão será recomendável começar o percurso pela frescura da manhã. Em pleno Inverno o frio acentua-se a partir das 14 horas, não sendo raro ocorrer algum nevão que cubra o terreno e oculte o caminho.
Pernoita:
- Refugi Bartolomeu Puiggròs (680 m): (00 346) 412 07 77
- Hostal de Montserrat (Monistrol de Montserrat): (00346) 835 02 33 – 835 00 70
- Parque de Campismo do Mosteiro de Montserrat (aberto de Maio a Setembro, situado no caminho de Sant Miquel): (00 346) 835 02 51
- Existem também inúmeros abrigos naturais onde se poderá bivacar
Telefones úteis:
- Guàrdia Civil: (00346) 825 01 60
- Creu Roja (Castellbell): (00346) 828 20 20
- Centre Hospitalari: (00346) 873 23 50


ATENÇÃO: já passaram mais de duas décadas sobre a publicação deste percurso, na revista Forum Ambiente, e portanto alguns dados, designadamente no Bloco de Notas, encontram-se manifestamente desactualizados.

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